Local memorável por conta de tragédia emblemática

Em 14 de março e nos dias subsequentes, Dona Francisca ganhou espaço na mídia e nas diversas manifestações populares em Joinville, em Santa Catarina, no Brasil e em parte do mundo. Não se trata de uma pessoa, o que não ameniza os impactos oriundos do acontecimento responsável por atrair os holofotes à serra assim nomeada, haja vista que afetou em cheio os ocupantes do ônibus turístico que nela despencou (a maioria, 51, fatalmente), compondo o topo das estatísticas dos maiores desastres rodoviários desse estado e, embora em posição mais inferior, integrando o ranking dos mais trágicos registrados no país.

Impossível a resistência de uma comunidade ao baque gerado por um acontecimento dessa dimensão quando provem dela quase a totalidade das vítimas, a exemplo do município paranaense de União da Vitória. Procediam de lá praticamente todos os ocupantes do ônibus, cujo destino era Guaratuba, no litoral daquele estado, mesmo havendo sido incluída na rota parte do espaço catarinense com o intuito de enxugar despesas. No saldo de passamentos para a eternidade induzidos por esse doloroso destino couberam sem aperto conhecidos de todo o conjunto populacional, inclusive mais de um componente de várias famílias.

Da partida em União da Vitória aos caminhos antecedentes à cidade catarinense de Mafra as condições em que ocorria o trajeto sinalizavam o andameandamentonto do processo sobre os eixos. O mencionado local é o marco do início da reviravolta, à qual deu-se a largada com a quebra do primeiro ônibus, que estava regular conforme as autoridades rodoviárias de SC e transportava um número reduzido de passageiros, sendo trocada a condução por outra em avesso estado no tocante aos registros legais e desprovida de cinto de segurança e adicionados mais ocupantes (um grupo que seguia em uma van) à quantia inicial, atitude suspeita de superlotar o veículo. Partiu posteriormente dos órgãos de monitoramento do tráfego rodoviário (ANTT, DNIT, PRF) a carta branca para que Cérgio (é essa mesmo a grafia do nome) Antônio da Costa, condutor dos veículos e dono da empresa Costa e Mar, responsável pelo percurso, esquecesse pelo caminho as normas de cuidado com os pertences e, mais relevante, a vida dele mesmo e dos demais indivíduos, pagando o mencionado e a maioria dos viajantes da pior maneira imaginável a conta dos fracos ou talves ausentes patrulhamento e manutenção estrutural (asfalto, luminárias e mecanismos de sinalização) pelas entidades citadas na rota percorrida pelo grupo até o ponto onde houve o salto mortal do ônibus rumo a centenas de metros de queda livre.

A área do sinistro, ao que parece, segue conservando seus vestígios, atração turística gratuita a quem passar por esse trecho da estrada encravado na serra e contribuir no estabelecimento definitivo dessa identidade ao local. Não constando apenas na questão dos cuidados para prevenir o episódio, a baixa eficiência do trabalho das instituições destinadas ao ordenamento do trânsito não se foi com o resgate das vítimas e a retirada do ônibus, correspondente a metade dos processos de limpeza do cenário, com cujo restante (remoção de objetos pessoais dos ocupantes – mochilas, celulares, roupas etc – tais entidades não aceitaram responsabilizar-se, apesar de este ofício exigir recursos de muito inferior custo e maior acessibilidade se comparados aos utensílios de que necessitou a primeira tarefa. Determinou-se que ela ficasse a cargo da Costa e Mar, decisão cega no que é relativo às capacidades de a firma executá-la, muito provavelmente afastadas do nível ideal para isso por conta das crises que poderá estar enfrentando devido à participação de seu principal administrador na lista dos mortos. Paralelamente a isso, a permanência desses pertences no fundo do abismo poderá atrair mais motoristas para lá com as desordens provocadas pela pouca largura da pista e as paradas dos condutores a fim de "curiar" as lembranças do fato, assim como já põe sob preocupação a integridade ambiental do espaço e representará o desprezo dirigido ao fragilizado quadro emocional de parentes e amigos dos falecidos, que pode lhes proporcionar maior desgosto quando souberem das peregrinações feitas em torno dos objetos dos entes (nas quais há risco de serem até saqueados) em virtude da falta de investimento em ações para que sejam dados os corretos fins aos materiais (operações para devolvê-los aos conhecidos dos donos ou mesmo descartá-los, o que da mesma forma seria melhor se comparado a esses atos desrespeitosos).

Antecedentes conhecedores das particularidades do trecho intensificadoras dos riscos, os órgãos de trânsito catarinenses, como o DEINFRA (Departamento Estadual de Infraestrutura), dependiam apenas de estímulos que apontassem os preços a serem pagos (majoritariamente pelos usuários da rodovia que pelos administradores) com a desatenção a esses alertas. O inédito número de mortos na queda do ônibus, provavelmente aliado às ocasiões em que os sistemas de recolhimento de água potável usada pelos residentes em Joinville por pouco não receberam produtos químicos liberados em desastres com veículos transportadores de cargas perigosas, precisarão a partir de agora e continuadamente ter as lições que deixaram servindo de foco para os processos de revitalização da estrada que se pretende fazer através de reparos em luminárias e recursos de sinalização (placas e faixas) e em operações de reparos nesses itens, cuja frequência exige a mesma proporção que a demanda. É impprtante a manutenção desses compromissos, desviando-se do exemplo dado pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) em janeiro, baseado na promessa, após outro grave acidente com veículo coletivo na cidade de Alfredo Wagner, de implantar no mês de fevereiro (ocorrendo no dia 31) em Santa Catarina e outros lugares do Brasil um sistema de trabalho para a redução dessas ocorrências fundamentado na fiscalização em linhas de ônibus por agentes da entidade e o regulamento das ações de policiais rodoviários conforme os métodos do já citado órgão, bolo que continua no forno graças a prováveis desorganizações nos modos de tal agência planejar e promover seus atos. O impacto provocado pelo ocorrido torna benéfico um puxão de orelha nos responsáveis pelo funcionamento da organização com o objetivo de levá-la a ordenar de imediato sua estrutura como maneira de compreenderem as responsabilidades originadas pelo pacto que fazem com a população por meio desses simples anúncios.

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