A rua que treme

Não é uma rua de uma cidade do Nepal, devastado por aquele terremoto do sábado e atingido continuamente por outros tremores, fato sobre o qual em breve escreverei. Conforme reportagem feita e exibida no dia 9 pelo SBTMS, TV local daqui do estado, os abalos ocorrem na pista e em residências da rua Fernão de Magalhães, Vila Marli, em Campo Grande, toda vez que veículos passam por declives em trechos de asfalto que estão afundando por conta de falhas em obras de esgoto realizadas na área há 6 meses.

Não são raridades nem restritos à capital e a MS casos de empresas que, ao fazer reparos em equipamentos públicos (principalmente em vias, para a manutenção das mesmas ou de materiais embutidos em especial abaixo das pistas para o fornecimento de serviços como água, eletricidade ou coleta de esgotos), acabam modificando sua estrutura muito além do item a ser reparado, processo necessário à facilitação das tarefas (aplicando-se ao exemplo das perfurações em asfaltos para o acesso a canos ou fiações), mas concluem os trabalhos sem limpar e reordenar o ambiente. Quando se silenciam as queixas quanto às condições do elemento cuja averiguação foi pedida (caso tenham de fato sido solucionadas), logo surgem motivos para a insatisfação e preocupações com outras partes do sistema no instante em que passam a funcionar fora do normal devido ao tratamento recebido de profissionais ou com utensílios que deixam a desejar em eficiência. O episódio que serve de base a esse artigo ainda aponta ser a inteligência de parte da população maior que o especulado por esses portadores de intenções contrárias aos deveres a que teoricamente se comprometem (mesmo uma leva desse conjunto não tendo acesso a satisfatórios níveis de escolaridade) devido a teorias de uma "cidadã comum", a diarista Lucélia Weiler, a respeito das origens da atual situação em que está a rua onde mora – supondo os transtornos terem surgido de possíveis erros na compactação de massa asfáltica usada para fechar os buracos –, hipótese a meu ver interessante para guiar procedimentos investigativos que deveriam ser abertos para apurar as circunstâncias dessa desastrada operação devido a uma relativamente grande possibilidade de ser verdadeira (não tenho conhecimentos sobre engenharia, urbanismo ou qualquer coisa do tipo, mas a história parece dar pistas, pois o afundamento do asfalto pode ter se dado com o acúmulo de ar e água em espaços abaixo do material vedante se sua compactação de fato tiver sido promovida com descuidos e, desse modo, a superfície não sobreviveria ao tráfego dos veículos).

Como retorno por muitas vezes suas mãos não serem de ferro na hora de orientar os procedimentos das empresas (por causa de desordens administrativas ou, em certas ocasiões, intencionalmente, a fim de beneficiar os interesses particulares dos envolvidos), o próprio Estado, administrador ou contratante dessas entidades (dependendo de elas serem públicas ou privadas), se prejudica em decorrência dos investimentos sem o alcance de seus propósitos de modo adequado seu propósito na contratação de mão-de-obra, aliados às despesas para reverter os danos, ambas situações que não permitem uma boa dosagem dos gastos governamentais. Esses resultados advindos de tais medidas incertas seriam um perfeito meio de ensinar de vez a lição aos administradores públicos se não atingissem paralelamente as vítimas dos desvios de conduta, o povo, não fugindo a essa regra quem mora, trabalha ou circula pela referida via, tem a perigo as estruturas de suas construções (para as quais são temidos danos), seus veículos (relatos de moradores dão conta de que um caminhão chegou a ter uma peça arrancada quando passou pelos desníveis e cujo condutor voltou em seguida e voltou para recolhê-la) e suas vidas (até agora não se tem conhecimento de acidentes no lugar, status sem garantia de permanênciacontinuidade) e precisa gastar tempo e paciência nas etapas a que se deve recorrer para o acesso a direitos ligados ao reparo de alguma dessas perdas, o que constantemente necessita da entrada da Justiça na causa com a finalidade de determinar que os governantes cumpram o dever após bastante tempo só cobrando uma generosa parte do que era ganho pelos indivíduos afetados como forma de implantar e manter serviços essenciais usados pelos mesmos, porém com métodos incorretos, responsáveis pelas pedras em que tropeçaram no final os contribuintes.

Os empregados fazem em grande parte a imagem dos chefes, vindo a visão dos clientes quanto aos produtos, serviços e seus fornecedores a depender da qualidade do atendimento consequente do grau de preparo de quem é posto para executá-lo. Sendo nos empregos comuns averiguados a competência e o comportamento dos trabalhadores, desde quando se iniciam no ofício (ações que se valem até dos antecedentes criminais, item que bate as portas na cara de muitos ex-presidiários e tem sua causa na incapacidade de nosso sistema prisional em reabilitar muitos reclusos, embora parte deles mostre sinais de querer recomeçar), não há o que impeça, e sim fatos que exigem o emprego dessas práticas na administração pública quando do recrutamento de servidores ou empresas disponíveis a prestar-lhe serviços, envolvendo a detalhada procura de dados sobre sua reputação e inclusive tentando combater os maus procedimentos nos expedientes com atuações em seus focos de origem melhorando a educação pública e induzindo os estabelecimentos privados a isso, com grande foco no ensino superior, em especial nos cursos de engenharias, arquitetura e urbanismo, pois a maior fonte dos problemas nas obras são os erros de planejamento.

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