O dia que durou uma semana

Quem imaginaria, nos primeiros momentos do incêndio iniciado no dia 2 do mês passado e combatido no dia 9 no terminal de transporte e estocagem de produtos químicos da empresa Ultracargo, em Santos, litoral paulista, que eles seriam os primeiros passos desse evento recorde na história do setor industrial brasileiro? Isso só os bombeiros previam lidando diretamente com os fatores que conferiam à operação grandes dificuldades e riscos, dentre eles a existência, nos tanques atingidos, de milhões de litros de gasolina e álcool (no caso dos quais era preciso esperar que grandes cifras do estoque queimassem e resfriar os ainda não afetados) e vazamentos em tubulações (consertados nos instantes em que as chamas diminu8am para que fossem contidas mais facilmente e com menos probabilidade de reiniciarem), trabalho que não é pra qualquer um e faz válidas as homenagens que estes fantásticos guerreiros vêm recebendo. Por sua vez ás populações do município e de sedes urbanas vizinhas, como São Vicente e Cubatão, detentoras de insuficientes conhecimentos para entender o que estava se passando, só restou acompanhar o curso dos fatos atravessando o caos vigente nestes dias e em parte dos posteriores como consequência do estado de alerta em relação à saúde dos habitantes, ameaçada pela fumaça liberada no incêndio e espalhada pelos ventos; das alterações em elementos do meio ambiente indutores da morte de toneladas de peixes através da contaminação, aumento da temperatura e queda da quantidade de oxigênio nas águas dp mar, rios e manguezais; e do impedimento do tráfego na região da Alemoa, onde situa-se a empresa onde se produziu o sinistro e é próxima logo do maior porto da América Latina.

Da prefeitura santista a reação à chocante e nunca antes vista magnitude alcançada pelo desastre partiu nesta última semana, na forma de uma multa com iguais qualidades, de R$ 2,8 milhões, dirigida à Ultracargo, co prevê a legislação municipal em casos desta linhagem. Numa visão geral, é uma ação integrante do conjunto das melhores respostas cabíveis à importância dada pela firma aos princípios de cuidado com o meio ambiente e a segurança e a saúde da população e de seus servidores, exemplo para outras regiões onde há esses espaços no quesito da prevenção dessas ocorrências. Lá vêm, contudo, denúncias protocoladas contra o órgão e os de municipalidades irmãs na Baixada Santista, em especial a uma comissão montada por vereadores de Cubatão, por representantes de associações ligadas aos setores químico e minerador. Agora os governantes de Santos podem mais cedo ou mais tarde, sobretudo por causa da aproximação do período eleitoral, ver uma interessante parcela da aprovação de seus ofícios pelo povo ir aos porcos em virtude das desconfianças a serem geradas em torno do real sentido das atitudes punitivas.

Para os investidores que objetivam instalar-se em áreas de onde podem retirar riquezas dispensando as exigências que condicionariam o honesto acesso à meta, a Baixada Santista é oferecida como uma das opções, em depoimento ao Legislativo cubatense do presidente do Sindicato dos Químicos da região, Herbert Passos Filho, e conforme informações levadas ao conhecimento do grande público pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Minério e Derivados do Petróleo, já que as prefeituras não estariam cobrando isso. O valor cujo pagamento foi estipulado à Ultracargo pelos gestores municipais de Santos, além de não contribuir para remediar todos os estragos – apesar de ser prevista sua destinação em obras viárias na Zona Noroeste, onde ficam o porto e a empresa acidentada, talvez para aumentar os acessos ao mesmo e, assim, impedir, nesses casos de emergência, perdas como as advindas das restrições no trânsito impostas naqueles dias, juntamente a pedidos de socorro federal a fim de amparar os pescadorespescadores (em conjunto com indenizações a serem exigidas aos provocadores disso tudo) enquanto os rios e as espécies não se recuperarem – não deverá servir para o suborno à mente do povo com o intuito de fazê-lo esquecer rapidinho da ocasião em que assumiram fazer só metade de seus deveres em resposta às denúncias (afirmando fiscalizar toda "nova" obra na Alemoa, ao passo que os demais estabelecimentos não teriam sido vistoriados), forma similar à forma como se posicionavam defronte a cada um dos pequenos acidentes que chegaram a acontecer no terminal químico até a consumação do enorme fato que anunciavam. E quanto a Cubatão? Lá a coisa parece ser pior! A fumaça gerada pelo dragão da cidade vizinha promoveu um temporário resgate das memórias dos tempos em que o conjunto urbano era mundialmente célebre nos anos 80 com os aterrorizantes índices de poluição que lhe rendiam o nome informal e nada positivo de "vale da morte" devido às doenças que afetavam os moradores desde cedo, chegando muitos a nascerem malformados. Mesmo já superada, essa realidade não tem distanciado o risco de se repetirrepetir por causa dos obstáculos impostos aos trabalhos fiscalizadores pela imobilidade das análises de propostas regulamentadoras, culpáveis por acontecimentos como a "tremenda bagunça", nas palavras de Herbert, no pólo industrial depois de um vazamento químico no dia 23 de janeiro, quando pessoas vagavam pela área expondo-se ao agente tóxico (das quais várias, como se poderia prever, necessitaram de amparo médico) por não existir um organizado plano de evacuação.

Todo episódio desastroso, como não podia ser diferente no caso do megaincêndio na Ultracargo, é seguido por discursos de nossos representantes sobre a atenção que tais fatos despertam quanto à vital importância de atos preventivos, vindo, no entanto e em muitas vezes, esse aparente sinal de consciência a se perder em curtíssimo prazo e ser recobrada unicamente com a repetição dos acontecimentos, que podem acabar sendo tratados identicamente. S Tendo se sugerido a mudança de foco justo ao citado assunto pelos vereadores de Cubatão após abordarem nas reuniões as penalidades dadas aos provocadores das desordens socioeconômicas e iniciativas com intuito de auxiliar suas vítimas, fica a cargo destes a quebra de parte desse costume com o imediato desengavetamento das propostas de normatização dos serviços fiscalizadores atribuídos ao Executivo (prefeitura e entidades unidas a ela) e, por meio da organização de levantamentos sobre o modo em que operam as empresas, orientar seus superiores a fazer trabalhos eficientes, do mesmo modo como é indispensável que ambos os poderes (Executivo e Legislativo) ajam no restante da Baixada Santista e do país no tocante a essas questões ou quaisquer outras associadas a atos de monitoramento, preventivos e punitivos. A manutenção do adiamento das medidas fundamentada na impressão tida pelos guardiães da lei de que nada acontece – com eles, muitis deles vivendo sob algum tipo de superproteção –, se conduzir a problemas com enorme saldo de prejuízos, dentre extravio de vidas, não tem honra para merecer tolerância por parte da imprensa, dos cidadãos comuns e dos sindicatos e organizações equivalentes por contestar a legitimidade dos apelos emitidos pelos indivíduos ou grupos mais tarde lesados pelos problemas a pedido da solução dos quais eram feitos.

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