Relações políticas e diplomáticas estremecidas

Boa parte das atividades dos mais variados governos e organizações pelo mundo afora vem se centrando no amparo ao povo do Nepal desde o dia 25 do mês passado, quando as dificuldades surgiram como resultado de um forte terremoto de quase 8 graus na Escala Richter e das "réplicas" (abalos de menor intensidade) que o sucederam, matando e ferindo dezenas de milhares e desabrigando milhões. Até o Facebook organizou uma campanha visando arrecadar fundos para a reconstrução do país. Embora a criação e os incentivos ao ingresso nessas correntes solidárias consigam ativar em muitos de nõs a compreensão da semelhança entre este contingente populacional e nossa sociedade nos quesitos de inteligência e sentimentos defronte às mais diversas situações – desconsiderando as distâncias e a variabilidade de tais características perante às diferenças culturais – e da universal cobertura de nossa vulnerabilidade às forças da natureza, majoritariamente impossíveis de serem domadas pelas cada vez mais modernas tecnologias de que dispomos, nem todas as quantias de dinheiro e bens como alimentos estão sendo destinadas aos fins humanitários, certa parcela garantindo benefícios desonestos, com o agravante de terem se afastado mais das demandas nacionais nesse atual contexto, a parasitas que infestam as instituições políticas internas e também estão infiltrados entre os grupos militares, governistas e civis estrangeiros convocados para os trabalhos de resgate e assistência às vítimas e à nação como um todo.

De modo geral os países que decidiram ajudar a comunidade nepalesa a se reerguer estão de fato a agir segundo esses preceitos, após solidarizarem-se por livre vontade aos apelos partidos daquela nação. Dentre os corretos participantes deste jogo que não ambiciona vitórias particulares está Israel, cujo empenho é aprovado pelo povo (com destaque para o caso de um homem que retribuiu a assistência recebida por sua mãe agradecendo no próprio idioma hebraico, aprendido na temporada que passada há uns dez anos a trabalho naquela localidade) e o governo nepaleses por colaborar em especial no socorro aos feridos com avançada estrutura. E o que dizer da França, cujo Ministério do Interior vai muito além investindo no controle de doenças originadas pela deterioração dos sistemas relacionados com higiene e saneamento básico decorrente da catástrofe por meio da implantação de serviços para tratamento de água e aeu envio às massas populares?

Na contramão há Estados que, juntando-se à causa, perdem tempo e recursos investidos sem conseguir recompensar isso com ações que produzam bons e significantes efeitos, acrescentando-se o papel que terminam fazendo de estorvo às equipes que "ralam" a fim de dar os máximos conforto e segurança a este povo, devido ao inútil nível de preparo, semelhante à forma como atendem suas populações. Me impressiona muito a força das relações político-econômicas entre Nepal e Paquistão da qual uma imaginável pista seria a ajuda vinda da primeira nação sob a forma de mantimentos que incluíam carne bovina, rejeitada pela predominante cultura hindu do país sacudido pelos sismos – terra natal de Buda, para quem não sabe –, evidência de desconhecimento cultural. No entanto essa escorregada dos paquistaneses logo tem seus impactos superados pelas contribuições da Índia, líder em queixas provindas dos setores políticos (principalmente os grupos opositores do atual governo nepalês) e das massas populares face a seu desprezo às leis vigentes naquela pátria – cabendo mencionar o próprio fornecimento de "ajuda" em maior conformidade com seus critérios em oposição aos que seriam adequados às particularidades sociais, econômicas e políticas de tal território, determinados por seus respectivos gestores; emprego, por diversas ocasiões, de helicópteros para resgate de vítimas no transporte de jornalistas; e desrespeito a governantes e profissionais de imprensa nepaleses (caso do jornalista Yub Raj Ghimire, editor-chefe do jornal Annapurna Post, ameaçado por um secretário da embaixada indiana Shri Abhay Kumar) –, mostrando a existência de indesejadas repercussões das listadas inobservâncias na forma com que estariam sendo distribuídos comida, água, remédios e itens para abrigo a uma grande cifra de pessoas. Ademais, as lástimas que afligem o Nepal ultrapassaram suas fronteiras, vindo a ser sacudidos pelos abalos geológicos, também com mortes e perdas materiais territórios na China, em Bangladesh e... nem os estados de Bihar, Uttar Pradesh e a região de Nova Delhi – esta cidade dá pistas do país a que me refiro, por ser sua capital – se safaram! Os desmandos cometidos pelas entidades governistas e militares indianas tornam-se, pois, muito menos aceitáveis em função de indubitavelmente denigrir no quesito moral o povo que representam em virtude da igual situação calamitosa enfrentada por parte do mesmo em conjunto com o outro país.

Ós inimigos internos não ficaram atrás neste momento em que o Nepal se torna mais propício a suas ações! Orgãos (tanto públicos quando filantrópicos) e personalidades teoricamente ligadas aos interesses coletivos, além de, contrariando o pedido do primeiro-ministro Sushil Koirala, privilegiar nos trabalhos de socorro as localidades onde prevalecem as tendências políticas favoráveeis a eles, estariam alimentando outras tramoias que expõem mais ainda, em dimensão mundial, as razões para o perfil socioeconômico que há muito tempo identifica o lugar, incluindo entre os mantenedores até as unidades regionais da Cruz Vermelha. Em tal ambiente fica estranho espantar-se com as imprudências na lida com os donativos, causadoras não só das afamadas desigualdades em seu repasse como parecidamente desprotegem-nos de ameaças físicas e biológicas às qualidades que os apropriam ao desejado uso – este último fator em muitos casos estando relacionado ao primeiro defronte às perdas que acarreta em estoques, a exemplo do apodrecimento de toneladas de arroz em armazéns da região nepalesa de Mechi.

Fatos lamentáveis desse gênero ocorrem aproveitando-se dos espaços vagos deixados pela falta de legislações no Direito Internacional determinantes do regulamento, igual para todos os Estados, da providência, captação e uso de recursos para socorro a vítimas de catástrofes resultantes de guerras e fenômenos naturais e da presença direta – com o envio de parte dos membros mais influentes e poderosos – da ONU, Cruz Vermelha e órgãos de alcance mundial do mesmo calibre, almejando garantir que sejam obedecidas. Deixo aos representantes das referidas entidades esta dica, restando que façam a parte a eles correspondentes com urgência em seu aproveitamento. Não permaneçam indiferentes às várias portas fechadas por estes governos e demais organizações aproveitadoras a quem lhes caberia servir!

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