Consolidados vícios da grande mídia no jornalismo local

Transcorrendo, o tempo leva, pra glória da moral, o encanto popular que tinham as pautas jornalísticas encharcadas em manchetes trágicas e assuntos com ausente importância social, onde se encaixam os tititis em torno da vida dos famosos. A mídia se nega a ver essa massiva conscientização, estando entre os piores cegos. Ao longo das últimas décadas o poder que tem esses procedimentos dos gigantes midiáticos de nos indignar vem decaindo. Mas regenera-se agora com o desvio por veículos informativos como o Portal Meio Norte, do Piauí, e o Correio da Bahia, de seu obrigatório foco adotando essa postura quando escolhem o que publicar em suas fanpages no Facebook.

A rede Record e o portal R7 são alguns dos principais empreendimentos da comunicação nacionalmente prestigiados que ainda sustentam essa linhagem de jornalismo desrespeitosa aos preceitos racionais e humanistas de análise e exposição de fatos que regem o ofício e são disseminados nas faculdades. Os dois provedores de conteúdo não se encontram sozinhos na missão de propagar os temas sangrentos feito chão de matadouro frigorífico, bastando fazer como qualquer grande corporação de mídia – permitir a retransmissão de seu material, aos veículos regionais, parceria da qual o Meio Norte se aproveita assiduamente. O mesmo portal dá desequilibrada atenção aos problemas sociais (dentre eles os da segurança) sentidos no cotidiano por grande soma de piauienses e, predominantemente, em um de seus mais diretos atalhos de interação com o povo, a fatos muitas vezes de nem tanta importância escolhidos apenas por repercutirem entre as massas. E nem é uma repercussão construtiva,verificado o consequente ciclo de perturbações psicológicas vindas da exposição a esses contaminantes causadora de uma paranoia coletiva quanto à insegurança cuja sensação é aumentada pelos espetáculos e a falta de terreno para reflexões inteligentes acerca da origem e do que podemos faver para dizimar a praga.

As duas potências midiáticas locais aqui analisadas dão igual foco ao que é constatado não ter influência prática coletiva normalmente exigida para a exploração de um assunto pelo jornalismo e muito mais conseguem se afastar do que convém ao mesmo recorrendo a baixezas, outros maus exemplos captados da grande mídia! Tudo em prol de obter cliques provocando os sentimentos do público! Seguem estes cada vez mais negativos envolvendo a solidariedade dos cidadãos comuns para com os famosos através de críticas à violação da privacidade dos segundos cuja fama não deveria restringir o acesso ao direito de viver como qualquer um de nós e a perda de tempo com a visualização de "notícias" bizarras. Mas adianta? As ilusões engessaram os princípios morais da linha editorial dos sites ao ponto de até liberar em suas páginas no Face matérias sobre sexo, memento ao qual é apropriado convocar pais ou quaisquer responsáveis para resguardar a maturidade de adolescentes (ainda mais aqueles muito jovens, em torno dos 13 anos, idade a partir da qual o Facebook dá sinal verde pra abertura de contas).

O volume de desmandos sociais que se abatem sobre o Nordeste, realçados pelo atual cenário político brasileiro, aponta com a prática e, portanto, de modo mais convincente, as direções projetadas para o jornalismo local. Uma viagem pelas mídias nordestinas (com maior ênfase para as de cidades interioranas) é uma boa pedida para a contemplação dessa mina de ouro pouco explorada nacionalmente pelo jornalismo engajado em causas socioeconômicas. A desumanidade que vitimou aquelas quatro garotas adolescentes de Castelo do Piauí em maio e expôs inclusive a uma gradação mundial o estado coberto pelo Meio Norte (mesmo nome de uma área que compreende parte deste lugar e do Maranhão) não passa da ponta, elevada à superfície, de um iceberg de corpo mais complexamente formado por problemas ligados à falta de úteis investimentos na saúde, educação, infraestrutura, segurança e alívio dos atrasos advindos da baixa pluviosidade na parte sertaneja. Ambos os veículos midiáticos permitem sim debates a respeito destas questões abordando-as em suas próprias páginas, mas deixam fluir pelo ralo as chances de aguçar sua praticidade com a propagação dos conteúdos de coletivo interesse pelas redes sociais quando os jornalistas tratam seu uso nas redações como lhe fazem fora do expediente na hora de se comunicar com amigos ou parceiros amorosos.

A consequente barreira entre a mídia e os espectadores por ela seguir linha de trabalho descarrilada em relação ao genuíno contexto em que se fincam os clamores dos acompanhantes deixa as marcas do descontentamento nos próprios perfis dos veículos. Não bastando as queixas dos internautas fixados na Bahia ou Piauí, percebe-se a face mais penosa da omissão ao serem vistos ocasionalmente seguidores dos sites nascidos nos estados e hoje residindo fora deles deixando nos fúteis links seu inconformismo em serem ainda mais apartados da realidade de suas terras. Quem sabe a mudança só venha se impormos aos portais o impacto sentido às vezes por alguns de nós quando passamos a valorizar algo ou alguém a partir do instante em que o perdemos? Já tem um tempo que descurti a página do Correio, o que acabo de fazer com o Meio Norte!

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