Foi bom negócio antecipar o "presente"?

Surpresos nos vimos acompanhando ao repentino, veloz e inédito processo de transição administrativa municipal levado a cabo em Campo Grande no dia 25, anterior ao aniversário da cidade. Bastaram três rearranjos no motor do Executivo que terão colocado em ordem seus elementos e os de setores vinculados. Com mais precisão, foram dispostos na ordem original, intrínseca ao governo Alcides Bernal (PP). A reversão se realizou nada mais nada menos que com o retorno do mesmo após impopular cassação por improbidade administrativa em 12 de março de 2014 movida por vereadores sob o interesse em receber ilegais pagamentos de influente grupo criminoso desmantelado na Operação Lama Asfáltica e na Coffee Break, seu desdobramento. Há, no entanto, evidências de total purificação de seu status penal?

A ideia de que os fins justificam os meios, invertida graficamente, não tem deslocado seu sentido prático. Atos próximos ou exatos de caracterizar o abandono por líderes políticos ou econômicos dos limites determinados a suas funções a fim de prolongar-se no poder focando nos privilégios atrelados a ele fazem questão de só direcionar o funcionamento dos serviços públicos e o bem-estar social para rotas que a todos penalizam.

Não obstante serem descobertos e virem a público através da mídia operações errôneas de que foram alvo nas mãos de políticos e empresários recursos destinados a obras estaduais pelos mesmos indivíduos que delas necessitam – a gente –, a Operação Lama Asfáltica identificou o real caráter do "golpe" contra Bernal que, descobriu-se agora, muito bem fundamentou o uso da expressão entre aspas feito em declarações sucedentes aos trabalhos que o derrubaram após processo investigatório de uma Comissão Processante concretizada por vários vereadores desde outubro de 2013. Às duas iniciativas atribuíamos até então uma face democrática devido a sua intenção de averiguar e punir inconveniências em contratos para a terceirização da gerência de assuntos na saúde, ensino e outros setores que a eles estava seguramente influenciando de modo negativo e transferindo a inocentes usuários a conta de alegadas tramoias. Desejadas como saída para as inadequações, as medidas que levaram à Prefeitura o vice de Bernal, Gilmar Olarte (PP) – referido como "Goiano" em conversas telefônicas interceptadas –, multiplicaram-nas, descambando inclusive para o suspeito envolvimento do mesmo com pedofilia. Se dos cabíveis fundamentos morais instituídos pelas leis e o senso comum os representantes populares já passaram por cima durante o curso dessa transição governamental, o que os faria santificar-se após tudo estar consolidado? Dessa fase em diante foi que vieram para ficar – porém não sobrevivendo eternamente como esperado – as condições que de encontro iam aos anseios por fartura dos ingressa dos no sistema!

A verdade, quando enterrada, tem sempre o poder de voltar à superfície, levando o tempo de que precisar para ressurgir de qualquer profundeza e a seus ocultadores determinar de vez os destinos de que tentaram escapar ao encobrí-la. Melecar sua reputação na Lama Asfáltica representava menos da metade de que é desejável aos vereadores para os quais, assim como Olarte e alguns empresários, está em boa medida vindo a dor de cabeça após muito "cafezinho" – código encontrado em amostras de conversas telefônicas e referente ao embolso de propinas – na forma de impedimento ao legislador Mário César (presidente da Câmara Municipal) e o vice-chefe do Executivo de adentrarem nos órgãos de sua responsabilidade e o benéfico perigo de irem todos parar no xadrez.

Passados os festejos dos 116 anos da Capital, Bernal regressou a seu comando no dia seguinte (27), tendo a sorte de não sofrer nova queda por causa de uma madeira solta no palanque que não lhe estava próxima e perigava ruir sobre quem estava ao redor e teve de afastar-se. Caso tenham movido as engrenagens do imprevisto conspirando para restituirem seus direitos, dispensável é para os adversários e seus pares a hostilidade perante a falha porque a retirada imprópria de quantias até bilionárias dos cofres públicos – não exclusiva só aos recursos municipais, pois também surrupiou-se ajuda federal – já deu grandes preocupações ao prefeito e o novo secretariado que montou no tocante ao potencial de outra vez harmonizar o uso destes bens. Importante aparato de aspiração dos valores, desfeito por Bernal foi a existência de vagas comissionadas (cargos de confiança, sem ter passado por concursos) no funcionalismo estatal em contraste a uma leva de educadores e profissionais da saúde engajados em recentes greves. Ainda mais em função do achado de funcionários "fantasmas" em muitos dos cargos que esse contingente ocupava, as finanças agradecem, em par com a qualidade delas, no que é relativo à qual desejamos um sincero empenho da equipe em acertar nas escolhas pretensas a re-estabelecer a ordem nas áreas prestativas ao cidadão. Foi bom terem se decidido atentar-se para os serviços essenciais e reconhecido não ter vez neste momento atividades geradoras de mais despesas que benefícios, como os comprovadamente ineficazes ritos de tapa-buracos e os eventos culturais, que, igual nos de responsabilidade do Estado ou privada, muitas vezes têm na administração municipal a vítima e a culpada (no caso de transtornos ao setor de saúde) simultaneamente quando pessoas (ainda por cima jovens) embriagadas, drogadas ou vítimas de violência ou acidentes automobilísticos advindos do consumo das substâncias causadoras dos dois efeitos nessas atividades tornam-se parte da demanda por auxílio médico.

Por quanto tempo Bernal conduzirá nessa segunda fase seu dever? Nova madeira solta à vista! A Câmara Municipal recebeu, na última semana um documento do pecuarista Luiz Pedro Guimarães pedindo que o prefeito seja de novo tirado de cena por ter renunciado ao cargo quando se candidatou a senador nas passadas eleições. Entre a desatenção dos órgãos eleitorais quanto a tal quesito apontada (se não tiver sido plantada falsamente) pelo denunciante e/ou o perfil em que ele se encaixa, rótulo onde estão transcritas as reais ambições de muitos portadores quando entram nesses impasses políticos, haveria uma bem solidária divisão e ajuntamento de forças objetivando fraquejar as fundações do governo Bernal, pondo lhe à frente um desafio impossível de ser transposto integralmente por elas já terem sofrido abalos logo no início da experiência com os duvidosos contratos e licitações originadores da cassação, exceto se diligências posteriores atestarem ser as irregularidades obras dos enlameados e atribuídas ao prefeito como passo inicial na indução de sua queda.

O aproximar das competições entre candidatos a líderes populares em prol do arrebanhamento de eleitores nos convidam a revisar nossa consciência política, numa boa hora face às farras públicas em nível municipal (em se tratando de Campo Grande e suspeitas propensas a desenvolver-se noutras cidades), estadual a nacional. Os ventos melhor influentes nas escolhas com as quais deparamo-nos agora sopram em direção ao apelo para as novas figuras e propostas destas. Bernal, de incerta reputação, e muitos dos membros da Cara Municipal, que uma prévia deram das táticas a que recorreriam para captar votos, deixam aproveitável espaço para renovadoras opções.

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