Punir um crime com outro; há alguma justificativa plausível?

Dentre as manchetes desta segunda-feira na seção do portal de notícias G1 voltada a São José do Rio Preto, Araçatuba e locais adjacentes no interior paulista havia: "Veja onde vão ficar nesta 2ª feira os radares móveis em Rio Preto, SP". Antes às 6 da manhã, descobriu-se onde estava um dos aparelhos, este fixo, da Avenida de Maio: no chão, caído de poste onde estava em virtude de muito provável ato de vandalismo. Em cerca de 20 dias, é o terceiro ataque a dispositivos fiscalizadores da velocidade no trânsito, precedido por casos de instrumentos atingidos com paulada pelo caroneiro de uma motocicleta em movimento na Avenida Comendador Vicente Filizola (marginal da rodovia Washington Luiz) e chute por um motorista que descera de uma BMW na Juscelino Kubitschek de Oliveira, além de outro lançado por um pedestre no córrego Barro Preto, do município de Catanduva, em agosto. É o começo de uma guerra popular contra a indústria de multas, porém condicionando a sociedade a derrotas em razão de seu irracional e generalista curso.

Que recaia a estes seres de personalidade todo o reconhecimento a seu papel social cabível! Não bastam os líderes governistas que, uma hora ou outra, acabam trazendo à superfície da opinião pública seu verídico propósito ao seguir uma carreira focada na garantia de direitos e deveres à população a fim de estabilizar sua existência, também dentre os membros da comunidade gente desse perfil? O panorama não inclui somente quem demonstra sua ignorância diretamente na prática, observado o apoio que estes "cidadãos" recebem das rasas análises de fatos feitas por certos profissionais da comunicação sensacionalista e pessoas comuns, incentivadoras do apelo à "pauleira" no contorno das cotidianas injustiças. Pelas redes sociais e seções de comentários em sites informativos de Rio Preto e região distribuem-se opiniões de internautas taxando os vândalos de "heróis" ou "mitos", sugerindo-lhes condecorações, como estátuas, e rotulando o mais recente radar danificado como "mais um bandido morto".

Nos protestos que proliferaram no território nacional em meados de 2013 os black blocs deram o ar da graça "punindo" o sistema político-econômico desigualmente justo avacalhando a propriedade privada (bancos e outros estabelecimentos empresariais) e os bens públicos {itens para sinalização do trâncito e lixeiras). De resposta, a maioria civilizada que foi pra rua, embora boa parte não aproveitara a melhor oportunidade para mudar o cenário político – as eleições –, negou ser representada pelos grupos baderneiros em precária sintonia com as questões estatais, o que os leva a se portarem pior que em matinês carnavalescas. Quase inteira é a certeza de haver entre os àquela época contestadores das rebeliões cérebros que no presente momento têm e expressam sem rodeios boas expectativas quanto à quebra dos radares. Que sentido tem essa elasticidade de consciência?

De onde vem a mobilidade dos repercussões de um ato sobre seu contexto? A prevalência dos valores estéticos dos protestos sobre a realidade por eles motivada e expressa no dia-a-dia é possível de ter originado o posicionamento contraditório.

As agitações majoritariamente pacíficas igualaram-se ao Carnaval, Réveillon de Copacabana e qualquer parecida ocasião festiva que nos projeta num ar positivo defronte a comunidade estrangeira, logo sendo desvantajosa a existência dos mascarados dos quais no início do ano seguinte atestaram isso ao disparar o fogo de artifício que feriu fatalmente o cinegrafista carioca da Band Santiago Andrade. Observado o regresso a que figuras públicas desonestas dispersas por entre os partidos nos conduzem, presenciamos nesse patriotismo simbólico com finalidade propagandista e nas baixas em tarifas de ônibus o relativamente sensível legado das idas às ruas em massa, pois Dilma e demais integrantes da quadrilha ganharam prorrogação de sustento por consciências murchas e pouco ou nada dispostas a se expandir empreendendo a busca pela libertadora verdade.

É nas pressões por nós encaradas em nossos afazeres costumeiros, lutando arduamente para aproveitá-las sob complicações como os desmandos governamentais nas áreas de sua responsabilidade, que contida está a essência de nossa realidade, sob pena de os turistas iludidos pela imagem utópica que daqui absorvem sentirem o contraste caso virarem cobaias involuntárias das experiências práticas de exposição a nossas mazelas. Serve de exemplo a cobrança por vezes abusiva de multas por certos trabalhadores e órgãos controladores do fluxo rodoviário, alguns deles chegando, segundo relatos virtuais, a apenas deixar o radar operando e consumir jogos eletrônicos em seus celulares. Mas esta justiça por conta própria, de sabida ilegalidade, adicionalmente tem sua confiabilidade frágil por não se saber quantos dos radares tiveram o emprego que justificaria os ataques, tendo a maioria móvel passado por diferentes equipes com distintas intenções, e em consequência de haver em dois dos atos indícios da recusa dos autores em pagar por erros legítimos. Os motociclistas em "altíssima velocidade", nas palavras ditas à polícia pelos operadores doaparelho atingido com um pedaço de madeira medindo mais de 90 cm pelo carona da moto, e especialmente o autor do chute contra o outro equipamento, pelo tipo de carro do qual descera, têm parte da responsabilidade pela cobertura heterogênea e seletiva de nossas leis que tratam os criminosos conforme seu poder de influência social. O que seria feito dos dispositivos se estivessem numa rua por onde passassem protestos?

O Estado, delimitando muito bem as competências de seus operadores com os bens que utilizam para tal função, o que demanda intervenções do Ministério Público e congêneres entidades devido à (muitas vezes proposital) pouca energia dos governantes para dar o start no processo, e acertando no tamanho, medidas e disposição das vias e seus elementos pretendendo cortar o suporte às desculpas de quem reluta em de modo certo portar-se no trânsito e, assim, deve embasar campanhas educativas, e a população dando seu melhor para que tudo isso surta efeitos englobam duas frentes de luta contra a indústria das multas capazes de tudo se nelas for investido dessas maneiras. Fazer uma indústria operar com dificuldade ou até quebrar requer entraves à obtenção de matéria-prima e ao desempenho de sua mão-de-obra, estando no combate às antes referidas irregularidades o único contexto em que os sintomas da crise que atravessamos cooperam conosco.

(Alguns links de onde obtive as informações:
http://www.diariodaregiao.com.br/cidades/policia/homem-em-garupa-de-moto-d%C3%A1-paulada-em-radar-m%C3%B3vel-1.369006

http://www.gazetarp.com.br/cidades/noticia/2015/09/motociclistas-danifcam-radar-estatico-com-pauladaem-rio-preto.html

http://www.oregional.com.br/2015/08/morador-pega-radar-movel-e-atira-no-barro-preto-em-catanduva_316740

http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2015/08/vandalo-joga-radar-movel-dentro-de-corrego-em-catanduva-sp.html

http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2015/09/motociclista-acerta-radar-movel-com-pedaco-de-madeira-em-rio-preto.html

http://www.diariodaregiao.com.br/cidades/radar-%C3%A9-arrancado-de-poste-e-atirado-ao-ch%C3%A3o-1.372316

http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2015/10/rio-preto-tem-terceiro-radar-vandalizado-em-20-dias.html)

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