Lama e problemas que não acabam mais

Samarco, um nome a se incrustar na história. Os recursos e atitudes das autoridades e da mineradora cujos donos são a Vale e a BHP (pertencente a Reino Unido e Austrália) deram gás ao supostamente acidental impulso de resultados em dimensões não vistas antes. Foi confirmado até agora que a companhia matou oito pessoas – excetuando-se os corpos e parte de um ainda não reconhecidos, o que não permite sua concreta associação com a tragédia – um rio inteiro que abastecia muitas cidades em Minas Gerais e no Espírito Santo, a fauna e flora em seu entorno e parte da riqueza histórica nacional, representada por legítimas construções coloniais do distrito de Bendo Rodrigues, município de Mariana (que era também o lar de muitas pessoas), tudo sob abundante camada de lama, rejeitos de mineração ferrífera liberados como devastador tsunami pela ruptura da barragem que os acondicionava e uma outra contendo água, persistindo o perigo em virtude do risco de uma terceira ruir. A reunião de conteúdo cujo tamanho determinaria o tempo em que a Samarco ficaria no "Cantinho da Disciplina" se encontra com demonstrações de apoio à manutenção de seu trabalho minerário em Mariana por causa da dependência econômica, perdoável face à carência de saídas para resolver o problema dentro do que é viável e métodos preventivos hábeis para terem derido o mar de lama antes de sua origem.

O que principalmente os habitantes de Bento Rodrigues demoraram anos para ajuntar e usufruir sobre e dentro do que seus antepassados necessitaram de séculos para deixar a feroz onda tomou e, querendo estrondoso IBOPE (que obteve), desfez em questão de horas na tarde do dia 5. não se podendo recompor o que foi embora no plano do valor sentimental. Melhor recomeçar longe das marcas traumáticas mantidas pela memória de como tudo era no passado e não voltará a ser perfeitamente. As imagináveis evidências da luta dos pioneiros para, sem querer, fornecerem as bases para que tudo se desenvolvesse nas sucessoras gerações não têm preço e sequer conserto!

Relatos de quem enfrentou o monstro e o acompanhamento da procura por quem não teve como escapar e os esforços para devolver a vida dos ex-moradores à normalidade, ajudar a natureza a redimir-se dos estragos e enquadrar na lei os culpados enchem os principais veículos de comunicação mineiros – Estado de Minas, O Tempo e as TVs sob as asas das grandes emissoras. Mariana e cidades vizinhas têm mídia própria, exemplificando-se o jornal Ponto Final e os websites Portal Mariana e Minuto Mais, este de Itabirito. O brilho do foco de cada um varia pouco, sendo inferior. Não é um ET de Varginha a chance de terem cumplicidade com o desserviço a influência da rede mineradora e a substituição do espírito investigador e parcial obrigatório ao exercício do jornalismo pelos interesses privados que transformam muitos profissionais em simples reprodutores das "verdades" lançadas pelos gigantes informadores em pouca intimidade com o dia-a-dia (pré e pós-catástrofe) da região. Surpreende ver que tal princípio não foi absorvido com homogeneidade por todos os comunicadores daquele estado, que deve tudo, até o nome, aos garimpos!

Voltando aos fatos em si, o meio ambiente e a infraestrutura de municípios na área de influência do Rio Doce em Minas e Espírito Santo ficaram também imundos com a sujeira mineral. Pelo modo como a lama lesou o Rio Doce e arredores, quanto corresponderão os valores monetários arrecadados por Brasília e, à força, pela Samarco, à viabilidade de serem repostos os itens vivos ou não dos espaços para que tornem a ocupá-lo harmonicamente? De surpresa o conjunto popular foi pego, tendo de rearranjar os deveres cotidianos conforme as necessidades que nascem. Outra vez em que um fato desastroso acontece no mesmo molde que tantos outros por as liçôes provenientes dos casos terem as portas batidas na cara pelas mentes de governantes, com certo apoio de cidadãos. O opaco interesse em planos que buscam prevenir calamidades dentro do possível e manter a população sempre esclarecida para lidar com as que ocorrerem bateu onde mais dói, explicitando a necessidade de mudança. Para o próximo fim de ano, caso não se meterem noutra enrascada dessas, reservam-se os planos de grande arrecadação monetária, estando justamente o turismo entre as atividades impactadas!

A pouca tolerância à passagem do tempo pelas demandas dos setores lesados motiva ações da Justiça sinalizando à Samarco o dever de acelerar os processos de recuperação se não quiser encarar mais graves consequências. Que a satisfação dos desabrigados expressa no começo de sua alocação para casas alugadas tenha se preservado, indicando interesse da companhia em andar na linha após o alvoroço inimaginável! Só com isso havemos de nos conformar em função de se ausentarem grandes feitos quanto à estabilização do tamanho dos estragos. Os detritos foram longe demais, no sentido do tempo em que se situava o Plano de Ação Emergencial disponibilizado pela firma a estes momentos exigentes de mais intensa atenção. Também os transtornos advindos da enxurrada avançaram apõs outro atalho sair de seu caminho, um projeto para filtragem de água feito por estudantes de Engenharia que recebeu um não do SAAE (Serviço Autónomo de Água e Esgoto) em Governador Valadares, uma das cidades que enfrenta crise no abastecimento por causa da contaminação e que muito a ganhar teria com a ideia.

O aparatoso drama socioambiental gerou reações ao descaso da mineradora e à inércia das autoridades pela qual não o repreenderam. A solidarização com Mariana tem multiforme face, dando espaço a protestos em ferrovias da Vale realizado por residentes em Governador Valadares e o prefeito da espírito-santense Baixo Guandu usando equipamentos de seu órgão, um bloco carnavalesco fora de época que pinta em tom lamentável uma escultura de vaca em Belo Horizonte, as palavras da boca do vocalista do Pearl Jam no trombone durante show na capital, entre outras expressões.

Na presença de tamanha atribulação surge a pergunta: com que destino brindar os seus líderes? Seu banimento irreversível dos circuitos socioeconômicos é de cara a bandeira das categorias mais exaltadas, em que se encaixa o prefeito Guanduense Neto Barros. São comuns os instantes férteis à sentença, porém os puxões a fim de extirpar as ervas daninhas com elas podem levar a boa vegetação e seu substrato em Mariana. Ao mesmo tempo em que aceita a iminente culpa da Samarco e apoia decisões punitivas, muitos habitantes da cidade tentam atrair o olhar crítico da opinião pública para a importância das atividades minerárias, sem dúvida não vigentes há maduro tempo e cuja retirada produzirá um cenário fantasmagórico. Não há um porto todo seguro para onde se possa correr.

Culpa do contexto histórico, já montado antes de a exploração mineral começar! O firmamento de tendenciosos e negligentes compromissos nos setores público e privado ou entre ambos faz inocentes pagarem seu insensível preço desde o príncipio do ajuntamento sociopolítido no modo em que o conhecemos! O florescimento, há poucos séculos, de partidários da separação entre as funções do Estado e as vontades pessoais de seus gerentes fará-se efetivo com a proliferação de membros governistas suficientemente isentos de segundas influências, as quais, no caso de Minas, obstruem, por exemplo, o necessário aumento de fiscais da secretaria de meio ambiente para alcançar todas as barragens e a credibilidade dos deputados que estão averiguando as irregularidades na mineração com vista a interferir na eficácia das normas que sobre ela dispõem. Mais gente assim haverá em nossa política mediante a escolha desapaixonada do povo, por onde o processo começa e para quem direciona seus efeitos.

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