Autoridade bipolar: entre abusos e fraquezas

Mais de uma semana se passou {1}, não conseguindo carregar totalmente as cicatrizes. Porto Alegre agora se caracteriza como um lugar qualquer em períodos pós-guerras {2}{3}. Água, luz elétrica e telefonia muito demoraram a ser reestabelecidos; construções públicas e privadas sofreram danos; e vias e parques ficaram bloqueados por conta de chuvas que causaram enchentes e furiosos ventos a cuja força grande quantidade de árvores não resistiu. O imenso destaque destas como vítimas diretas de sua mãe, a natureza, que em literal efeito dominó repassam o peso a seus irmãos humanos, foi a contribuição das forças naturais no papel de mais um participante nas missões para convencer os filhos racionais a aprimorar a dignidade com que enxergam e tratam seus semelhantes (da mesma e das outras espécies).

Novamente a natureza testou a integridade de seus elementos não humanos que terminaram integrando os espaços antrópicos por efeito da invasão destes. Em ocasião igual a tantas constatou baixa na qualidade de vida das árvores com as mudanças a seu redor.

Expulsos os adversários naturais dos parasitas e boa soma dos vegetais de grande porte para dar espaço a construções e atividades humanas, os exemplares preservados em ainda generoso número junto às artificialidades e seus acompanhantes cultivados pelos modificadores recebem assistência para aliviar o sufoco e o calor entre os que constroem, reformam e habitam a floresta de concreto inferior à celebração teórica das vantagens. Nem uma morte ocorrida há mais de dois anos por causa de uma queda de árvore em um parque {4} caiu feito água fria nos administradores de Porto Alegre mostrando-lhes o que caberia ser feito, e agora, mesmo não ocorrendo desta vez mortalidades ou vítimas seriamente lesadas, a capital gaúcha estará passando vexame internacional com o atual estado da rua Gonçalo de Carvalho, a mais bonita do mundo, posta no mesmo nível dos outros corredores.

O que têm por comum gerador dos transtornos ainda existentes é a arborização. Não, os procedimentos pelos quais optou-se a fim de praticá-la. Nas paisagens verdes estavam imponentes inúmeras árvores de até nove metros {5}, podendo algumas serem "centenárias", não mais tendo uma tão íntegra saúde, se bem que o tamanho, aos caprichos do vento (muito intenso e comum em fenômenos climáticos no sul brasileiro), já é muito para as raízes, vulneráveis a danos pela ação de característicos elementos urbanos, como o calçamento. Sem pensáveis restrições de presença – concentrando-a em áreas distantes de sistemas de trânsito, água e eletricidade, caso das praças e parques – qualquer objeto ou lugar ao redor dos indivíduos botânicos tornava-se seu último ponto de apoio, com os seres na posição horizontal, do que nem as turbulências atmosféricas causadoras das quedas podem ser culpadas.

Garis, que tiveram aumento na carga de deveres. Reforço militar {5}, nesta importante missão não bélica na qual o inimigo a ser encarado é o correr do tempo. Tendo a ajuda de presidiários {6}, em oportunidade para extrair do trabalho na remoção de estorvos à ordem coletiva o que lhes pode ser útil para repensar suas escolhas buscando limpar sua moralidade social, segundo o que permite a gravidade das infrações que os privaram temporariamente de ser livres. Além dessas categorias escaladas para sumir com o apavorante aspecto visual da bagunça, coube longa labuta aos responsáveis fixos pelos itens da infraestrutura que a ela dão vida em normalizar seu funcionamento. O passar dos dias contra eles apertava igualmente o cerco da insatisfação popular, com razão pelo entrave às atividades pessoais e as geradoras de capital {7} até para os governos, fadados a se deparar com este saldo negativo merecido por não ter iniciativa em limitar o poder das intempéries sobre os bens e serviços públicos essenciais. A exigência por um editorial do jornal Zero Hora {8} da transferência de fiações nos postes para terminais subterrâneos e a disposição de geradores às centrais para tratamento de água e esgoto a fim de mantê-las funcionando nesses momentos críticos gira em torno de real necessidade a ser em coro apoiada pela sociedade e o restante da mídia!

No mundo todo a natureza age segundo sua vontade inacessível a todas as chaves do ser humano. Porém ao controle deste, na qualidade de mais hábil animal para contornar os mais diversos problemas, se disponibilizam o sofrimento e as perdas que os fenômenos por regra impõem à dita espécie e as indefesas. A depender do caráter de muitos humanos concentradores de poder político- -econômico, vasto território do globo preserva as esperanças das forças superiores em retomar a propriedade que nosso grupo biológico usurpou, nem sempre se prestando a fazer uso evoluído.

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