O desejo pela caça deu baita coragem ao caçador

O sossego de pacientes, acompanhantes e profissionais do hospital São Vicente de Paulo, em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, foi rompido por insólitos e medonhos barulhos no dia 12. Era uma coisa a que nem aquela enfermeira fazendo gesto de silêncio em certos cartazes que o cobram podia se opor frente à periculosidade do gerador dos estímulos sonoros. A perturbação consistia na tentativa por um homem armado de terminar um acerto de contas com outros dois, dos quais um, sobrevivente, corrreu para o hospital em busca de ajuda e foi seguido pelo algoz, conseguindo, porém, nova chance para viver {1}{2}. Não é, por sorte, todo dia que pacientes adentram unidades médicas sem conseguir deixar porta afora as manifestações externas a seus corpos das circunstâncias que lhe impuseram motivos para ir atrás de atendimento.

A repressão legal das carreiras ilícitas não impõs hostilidades ao florescimento da busca por sucesso similar em teoria à nos labores reconhecidos e apoiados por lei. Trabalhar com honestidade em nome essencialmente do bem coletivo requer disciplina, pontualidade e certa tolerância à ingratidào de semelhantes, colegas ou clientes das atividades, e dos líderes públicos. A própria maioria dos brasileiros atesta a desvantagem, sobre a qual se impõe com superior força os ganhos nem sempre imediatos que motivam as pessoas idôneas a perseverarem no caminho. Levar uma vida aventureira montada puramente em cima de desejos, sentimentos e instintos in natura não é também algo possível de se conseguir gratuitamente, exigindo todo sincero amor aos ofícios testado sempre na prática.

Os ânimos de guerra que desembocaram no hospital tiveram início duas quadras antes. As duas vítimas a bordo de um carro e o desafeto em uma motocicleta se desentenderam por motivos a ser decifrados, mas já sendo apontado pela dinâmica da rusga a permissão dos sentimentos momentâneos como seus juízes. A possessão de uma arma fez o cambatente sobre duas rodas avançar na argumentação determinante do resultado.

A luta em que apenas um lado se valia de força para incapacitar o outro transcorreu primeiro em via pública. É talvez mostrado pelo adjetivo que no ponto de circulação estariam trafegando inocentes a pé, sobre duas ou quatro rodas, ficando disponíveis às balas desviadas da zona de pontaria que possibilitava atingir o carro onde estavam os alvos, risco a que também se expuseram cidadãos dentro de casas, locais de estudo ou de trabalho adjacentes. Felizmente ninguém nesse perfil foi atingido, mas o executor baleou o motorista, William Poli, que imediatamente notou a proximidade com o hospital.

Esse ponto fora o limite das forças de William, que, se esvaindo, teriam reduzido seu comando sobre o carro, levando-o a quase adentrar a unidade com o rompimento de uma porta de vidro. Não estando só, o detentor do volante contara com a ajuda do tio Elias Poli, tudo o que o mesmo pôde fazer. Com sua descida do automóvel e ingresso desesperado ao estabelecimento de saúde, Elias a teste submeteu o caráter do agressor, não atestando o mesmo mudanças na consciência prática sobre o zelo merecido pela maioria dos ocupantes do novo ambiente, e, esperando pela não ocorrida trégua, tentou salvar a si e ao sobrinho, só conseguindo o primeiro objetivo mesmo após ser alvejado no interior do prédio, momento após o qual o executor voltou-se para fora e, mediante mais disparos, tornou certo o fim da vida da vítima no carro.

Se seguiu ao evento a providência de vigilantes para o complexo de atendimento. Sua presença exerce efeito sobre a tranquilidade no recinto, decisiva para as condições de vários doentes. Os fatos que a muita gente impuseram terror face à imprevisibilidade de como o bandido se portaria a fim de atacar o sobrevivente constituíram exorbitante dose de atenção aos governantes quanto a isso, lhes sendo boa escolha manter os guardiães ou o reforço na proteção através de outros trabalhadores que sejam efetivos. Até onde se sabe com a prática, no entanto, teriam capacidade para no máximo deter brigas – pessoais ou entre atendidos e médicos ou enfermeiros – que eclodem no interior do espaço, caracterizadas por relativa leveza devido a se iniciarem no próprio rigoroso ambiente. De controlar um bangue-bangue vindo da rua, com a maior liberdade a existir nesta para descarregar os ímpetos, a que dimensão consegue chegar a competência dos vigias?

Frustrar a entrada pelas fronteiras com países vizinhos de armas e drogas culpadas por esses ultrajes à paz social em contínuas operações no modelo daquelas mostradas ocasionalmente na mídia (possível interesse apenas em autopromoção) e educar nossos jovens desde a infância fazendo-os ir atrás de aperfeiçoamento moral e valorizando os possuidores de benéficas habilidades são dois caminhos que, seguidos de preferência simultâneamente, reduziriam a vulnerabilidade dos cidadãos retos a ataques nos menos convenientes momentos. Pois comprova-se o quão surpreendente pode ser a repercussão do estágio em que se encontram alguns serviços públicos sobre outros.

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