Veneno para emagrecer

A morte de uma mulher aos 38 anos em Campo Grande no dia 1° por complicações de distúrbios hepáticos, junto a seus anteriores alertas na mídia sobre os riscos do chá "noz da Índia" {1}, que induziu às enfermidades, integram um reforço na compilação de motivos para que lutemos (nós e os aplicadores das leis, em cobranças e incentivos mútuos) buscando aniquilar a estirpe de inocência e eficácia de atalhos tão simples e milagrosos que prometem queda de peso e outras maravilhas mais inclinadas para o nado estético.

A obesidade é inegavelmente ligada a muitos desconfortos e reais problemas físicos e sociais. As plataformas comunicativas destinadas mais a questionáveis "distrações" se atiraram sobre essa noção e ainda para ela desenvolveram novo sentido, desta vez comercial e com nefasto efeito.

Desses meios para a troca democrática de ideias (com crescente ênfase para os virtuais) é a palavra na hora de prescrever aos espectadores aspectos físicos e morais que interessam ao desejo por lucro dos emissores, espertos em completar o kit influência sugerindo meios mágicos para o alcance dos padrões. A semeadura desses valores usa moldes de uma guerra ideológica, tendo por total inimiga a gordura ou quaisquer "imperfeições" desagradáveis mais à beleza corpórea e as armas para o alcance do objetivo são até rotuladas como "remédios", título enraizado nas conversas coloquiais.

Tendo em vista que até os autênticos medicamentos em geral e a real fórmula para o emagrecimento ou o ganho de massa muscular, seja por razões voltadas à imagem social ou interesse por uma vida mais longa e prazerosa, (disciplina alimentar e exercício físico) andam obrigatória ou sugestivamente de mãos atadas a acompanhamentos médicos, não é difícil no mundo paralelo da idealização corporal ocorrerem fugas da realidade na linha do contexto que levou a cidadã campo-grandense a óbito, tendo ela chegado a tal ponto por falta de cuidado no tocante a seu histórico de doença hepática antes dos 18 anos.

O vasto repertório de receitas para o "corpo perfeito" inclui preparados sem registro ou sequer conhecimento do Ministério da Saúde, agências de vigilância sanitária e congêneres, não havendo diretrizes para um monitoramento de seu fabrico e comercialização. Assim sendo, o CIVITOX (Centro Integrado de Vigilância Toxicológica), setor de saúde que atende vítimas de contato com agentes venenosos naturais e artificiais no estado, num documento de alerta à sociedade {2}{3}, informou que inclusive existem salafrários fazendo e/ou vendendo "noz da Índia" usando uma planta tóxica conhecida por "chapéu de Napoleão", não bastando haver perigo na "verdadeira" noz, Aleurites moluccana {4}. Os que mantém confiança nessa e em semelhantes formulações correm risco de sofrer prejudicial estelionato orgânico – emagrecendo por perda de nutrientes em vez de gordura – e o aparecimento de reações adversas é questão de tempo variante para cada pessoa, não sendo necessário dizer mais nada a quem diz não se deparar com os efeitos.

Estas observações levam a caminhos com término comum, a dedução de que os consumidores, ao invés de terem melhorias corporais, estão se suicidando! A venda do autêntico veneno é tão descarada e o perigo tão acessível quanto para as vidas, especialmente jovens, postas à beira do abismo pelas substâncias às quais é restrito o conceito de "droga" (maconha, cocaína, crack, entre outras). Posteriormente ao evento fatal que trouxe a "noz da Índia" para as pautas de discussão, jornalistas do Campo Grande News percorreram locais de venda (barracas de rua e o Mercadão Municipal) em duas ocasiões, constatando na segunda que os campograndenses permaneciam na mira destas sedutoras ameaças {5}{6}.

Tendo na segunda averiguação uma vendedora até "dedado" ao site informativo seu fornecedor, uma empresa em Goiânia (GO), foi disposto às autoridades policiais e sanitárias um atalho para desmanchar parte importante deste perverso mercado (podendo mais tarde ser possível um esforço para desmantelar o todo), pois há viabilidade em um trabalho conjunto com seus equivalentes goianos e nos outros estados para enquadrar na lei quem fabrica, divulga e vende os "milagrosos" produtos em modo parecido com que se "estoura" "bocas de fumo" frequentemente. Focando na vulnerabilidade das incipientes gerações, grande golpe será dado no negócio com campanhas preventivas nas escolas (de preferência as que incentivem os estudantes a pesquisar sobre o tema em livros e internet, onde as informações expõem os chocantes detalhes), tal como as ações anti-drogas sem as quais o resguardo dos jovens contra os estupefacentes atingiria o volume morto.

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