Sofrimento ainda nos primeiros passos

Três crianças sul-matogrossenses foram figuras marcantes deste terminado mês. Distribuídas como duas em Dourados e uma em Campo Grande, sofreram sem culpa violências físicas e sexuais operadas por gente, em dois dos casos conhecidamente a elas próxima, com mentalidade que desperta intenções macabras. E os caminhos a que os desprezos podem levar as indefesas vidas ficaram bem pronunciados aos olhos dos encarregados de guardá-las, lição que aponta os procedimentos merecedores de ajustes a fatores sociais, com a morte de uma das vítimas interioranas.

De tais questões marcas foram identificadas nas condutas por meio das quais (ir)responsáveis usufruiam do direito à guarda do garoto campo-grandense queimado e espancado em rituais de magia negra {1}{2} e da vítima de abuso sexual douradense que sobreviveu, uma menina indígens molestada pelo companheiro da mãe {3}. Muitas vezes ao próprio nascimento remonta a contextualização das vidas dos pequenos em notórias tão podres estruturas familiares e sociais de modo mais abrangente que mantêm os frágeis seres às voltas com perigos.

Tendo se passado alguns anos em que se desenrolaram fatos parecidos até fatais, do jeito que houve com uma menina de 12 anos em 2014, a polícia, justiça, imprensa e sociedade como um todo viram a persistência deste fantasma entre as comunidades indígenas, imune ao nascente ano, com a última ocorrência descrita antes, passada no penúltimo dia de fevereiro com lugar na aldeia Jaguapiru. Tem-se para além dos limites douradenses e estaduais o advento de maléfica cultura própria da maioria branca, que a adotara há longínquo tempo com indiferença a suas implicâncias negativas. Álccol (antes na forma de bebidas tradicionais feitas pelos grupamentos nativos em planejadas ocasiões, mas agora consumido sem freios, igual já faziam os "civilizados"), drogas ilícitas e o seguimento crescente do trato superficial a assuntos como a sexualidade pelas formas de entretenimento em que se camufla o objetivo de lucro exclusivo aos desenvolvedores, incomuns aos originais valores dos filhos biológicos das terras brasileiras, adentram seu nicho cultural paradoxalmente à fixação de barreiras marcada como dever de entidades erguidas para segundo o possível ressarcir o crônico vilipêndio à identidade destes povos. São efeitos que, mesmo modernizados, mantém sua essência se perpetuando por terem os iniciadores concebido e espalhado sementes criadoras de órgãos públicos nem sempre na prática indigenistas que, a comando de interesses retrógrados persistentes em alguns administradores, induzem membros das comunidades a traírem suas origens e arruinam parte do resultado do esforço a que apelam os órgãos destinados à primeira vista "predominantemente" aos brancos (polícia, justiça e instituições voltadas a ensino e saúde das cidades e estados) para com os auxílios de relativa eficácia que prestam a seu público alvo (já não tendo composição exclusiva pelos seres cuja genética inerente à aparência "puxou" mais para os europeus) atingirem mais estas minorias.

Não menos se deu mal injustamente um garoto campo-grandense de 4 anos, pouca idade da qual em boa parte terá se inserido a passagem por orfanato, casa de uma avó e a de tios como resultado de ter pais ausentes, situação à qual são imagináveis de terem chegado graças a fraqueza das instituições estatais e familiares no ensino dos rumos cuja tomada os faria aptos para criar o filho. O terceiro destino mostrou-se sádico, virando o menino ferramenta manipulada impiedosamente pelos tios, um primo e uma avó (mãe da tia) {4} na busca por fartura, notavelmente afastada de planos de repartimento com o pequeno. A turbulência estrutural motivava monitoramento desta família pelo Conselho Tutelar. A constatação de que na vítima custarão a cicatrizar muitas das chagas, que englobam risco de perda visual, levanta o enredo todo a nível que mais visibiliza detalhes de onde os conselheiros podem ter falhado na assistência a quem detinha a guarda, servindo-lhes a indicação para aguçar a prudência no controle a características socialmente vulneráveis de outros menores e suas famílias a seu cuidado.

A morte de uma menina de dez meses no dia 18 no Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados {5}, com suspeita de agressões físicas e violência sexual, permanece sem fartos avanços no entendimento de sua dinâmica, o que houve com a criança antes de sua entrada no local e antes numa UPA (Unidade de Pronto Atendimento), momentos em que seu estado se agravara devido a parada cardiorrespiratória e morte encefálica. No máximo foi expedido um laudo após o óbito que o relacionava a um tumor no cérebro. Nesse detalhe é que a casa cairá, sem direito a apelação, para cima de quem tratou a bebê em tão baixo grau de humanidade. Afinal, há que se creditar isso como originário dos maus tratos ou, se não tiver vínculo com eles, situação que tornava inadmissível expor a pequena às ingerências propositais, às quais teria precárIa capacidade de resistir.

Satisfará o senso coletivo de repúdio às atrocidades ver o responsável, qualquer que seja, tomar mesmo rumo que os perpetradores dos outros casos de corrupção física, psíquica e moral de humanos estreitamente capazes de reagir. Daí em diante não poderá servir parte da opinião de massa, culpada por manter ideias de que criminosos merecem pena de morte ou, nas celas, o mesmo tratamento "vip" que ofereciam as vítimas, preceitos que incitam o Estado a sem lógica punir infratores com procedimentos idênticos aos seus, de modo que, mesmo fora dos planos, este poderia acabar fornecendo ensino superior marginal graças aos exemplos e estímulos para os transgressores a quem são cabíveis políticas ressocializadoras. É dificilmente viável isso para quem pratica crimes de grave ofensa aos incapazes em virtude de muitos autores possuírem arraigada tendência às perversas condutas, colocando-se o aprisionamento vitalício, em condições humanitárias, como atitude mais correta na lida com os casos. Ainda mais combativo é estender por entre as emergentes gerações as iniciativas pedagógicas e punitivas que as levem para destino social viável à criação de sua vindoura prole.

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