Faroeste passional carioca
O afastamento em relação ao cargo do PM Jaime Damião Pavel, 30 anos, em 2014 após constatados antecedentes criminais por porte irregular de arma em 2005 parecia prenunciar o que lhe esperava na relação com estas ferramentas de trabalho. Dispondo seu pai, sargento do exército, de uma pistola, Jaime não teve, impedido de seguir a carreira policial e em seu lugar sendo taxista, atravancos a seu único dia de notoriedade e último de vida, o corrido dia 13, em que, traído pela esposa, foi tirar satisfação com o amante Leonardo Cabral Araújo, 41 anos. Não contava apenas ele com um dispositivo emissor de projéteis, assim como Leonardo também foi alvejado, ficando em quadro clínico estável.
Indo além dos países ou setores políticos, étnicos e religiosos de mesma nacionalidade que partem para as guerras a fim de resolver (aprofundando, na verdade) suas divergências, o armamento seduz com quase absoluto sucesso os homens que o detêm a por ele substituir os métodos racionais para reconhecer seus direitos e até onde vão no contorno de hostilidades em qualquer nível social, no que engana sadicamente os adeptos tornando o poço mais fundo. Enquanto para um dos atiradores o confronto reservou a sua pessoa o mais temível desfecho, a morte, e à família (onde está a esposa, com certeza inutilmente arrependida por causa do terrível caminho que seguiu sua infidelidade) e amigos consequente dor, diminui a firmeza de garantias de que a vida privada e a carreira do sobrevivente na CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais), a Tropa de Elite da Polícia Civil, preservarão sua inteireza na sequência do envolvimento amoroso irregular que o pôs em linha de rixa com o oponente e o levou a matá-lo.
Os ressentimentos amorosos encontram-se frequentemente envolvidos nos delitos com prejuízos físicos às vítimas e/ou perpetradores, junto com as drogas e quaisquer realidades sem vínculos criminosos, além dos problemas conjugais, geradoras de divergências complexas (desacordos no trânsito, referentes à quitação de dívidas, entre vizinhos por causa de som alto etc). Os achados empíricos detectam dispar intervenção dos governantes nos fatores que podem gerar crimes, tendo por alvo explícito dela só as condutas legalmente reprovadas, o que não tira o efeito prejudicial das outras.
Partem as instituições repressivas e as iniciativas sociais públicas e inclusive filantrópicas direcionadas a evitar que jovens encostem nas drogas para cima deste mercado, enfrentando suas ameaças, com a legitimidade garantida pela legislação que claramente o criminaliza, assim como a perturbação do sossego Se mesmo a escalada contra o narcotráfico e a emissão abusiva de ruídos apresenta lacunas que bastante alimentam as estatísticas ligadas às consequências das disputas no mundo econômico ilegal e pelo direito de trabalhar, estudar e descansar sem incômodos por música em volume exacerbado, a população sente em igual tamanho o peso de outras formas de ultraje às normas sociais até apoiadas por governos.
De tão bem fundamentado, o combate aos narcóticos não se restringe em ter como alvo apenas quem os possui fisicamente (para uso ou tráfico), como também aos emissores de mensagens incitando os ouvintes ou leitores a incorporar estes produtos à sua rotina. Na lista de párias nesse assunto as polícias e o setor da sociedade que goza de significante consciência cultural elencam a banda Planet Hemp e os artistas de miami bass brasileiro {"funk" desvinculado do estadunidense) e rap que fazem uso indevido destas manifestações populares para mostrar suposto lado bom do envolvimento com estupefacientes e outras atividades meliantes.
Mas entre boa soma do povo e das instituições competentes ocorre uma letargia em se tratando de como reagem ao declínio no valor hoje dado ao casamento e à família, alguns dos pilares da sociedade, em nome de crescente apelo a fugazes prazeres envolvendo sexo e bebedeira, ou outros psicoativos. Cidadãos, Estado e mídia com frequência levam punhaladas pelas costas de contemporâneas manifestações artísticas (em especial a música) das quais aceitam o intenso bombardeio com os valores despudorados interpretando com traiçoeira inocência o andamento metamórfico da cultura. Não se interessam no vínculo entre as novas ideias mais "soltas" e as violências manifestantes de lutas mal sucedidas entre indivíduos adeptos dos princípios e os preocupados com a ordem moral coletiva.
Lógico que a saída é melhor localizável em propostas cabíveis na democracia, nos direitos humanos. A retirada em 2005 do adultério entre as práticas tipificadas como crime pelo Código Penal ilustrou o reconhecimento pelas autoridades do viés intimista de muitas escolhas do ser humano, de modo que interferir tão fundo nesta individualidade violava fatores internos aos casais que contribuíam na prática. O enfrentamento às desavenças familiares passa, entre outras coisas, pela instrução, nos anos escolares finais, aos jovens, futuros maridos/esposas e pais/mães, no tocante aos compromissos como membros involuntários de uma sociedade onde não se pode ser absolutamente livre defronte ao colapso que isso ocasionaria no equilíbrio comunitário. O manejo das questões motivacionais recebe injusta consideração não sendo convocado para formar um tripé de medidas opositoras destas transgressões mais eficazes na lida com elas junto à condenação dos agressores e assistências para as vítimas que sobrevivem e familiares.
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