Não seria melhor ter chamado o síndico?

Dois homens no dia 21 optaram por usar a ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, que a eles e toda a população fora entregue como recompensa pelo dinheiro retirado de seus bolsos para erguê-la, a fim de manterem a saúde em dia e, não participando da poluição ou congestionamentos mediante automóveis, terem legitimado o direito de se pôr contra os fenômenos. Bastou uma onda, no entanto, para botar a baixo parte da estrutura, lançando fatalmente ao mar as duas vidas pretendentes de dar exemplo sendo campeãs de cidadania seguindo o clima pré-Olimpíadas. Não nos soa como um déjà vu a coincidência entre grandes eventos que atraem os olhares do mundo para o Brasil e desastres em cidades-sede, envolvendo empreendimentos cujo tamanho ou a ousadia na ideia de uso buscava em maior parte surpreender os turistas, levando-os a ver muita virtude no valor que nossos governantes conferem ao povo, sua fonte de recursos para gerir as necessidades do mesmo.

De um grosseiro estelionato estariam, assim, sendo vítimas estas estrangeiras pessoas físicas e jurídicas e entidades não lucrativas representantes de várias causas! E também cúmplices não interessando-se por conhecer a saga diária dos brasileiros para manter funcionando este paraíso, de preferência através de nossa mídia virtual cujos operadores, usando nossa língua, têm mais intimidade com os fatos, a despeito de isso não garantir imparcialidade às publicações. Em atendimento sobretudo aos integrantes deste contingente originados das grandes potências mundiais e com forte prestígio vindos aqui mais para lucrar com nossas riquezas é que se põe em curso empreitadas de maior qualidade iconográfica às custas de processos em torto alinhamento com a lei trazidos à tona quando o desleixo cobra sua dívida aos usuários do serviço a ser implantado, alheios aos esquemas embora tenham eleito alguns dos elementos atuantes.

A realização de projetos que vão parecer úteis aos brasileiros e gringos gerou em menos de dois anos duas tragédias com o mesmo número de vítimas fatais cada.

O mar não contou com resistências da ciclovia ao em si emergí-la. Para as forças naturais, ao contrário, fora tão fácil como chover inundando zonas urbanas de cujos solos a capacidade de absorver a água foi suprimida e nelas levando a baixo encostas de morros sobre imóveis incorretamente erguidos a seu redor.

As empresas do grupo Concremat entregaram em janeiro, pelas mãos da Prefeitura, uma ciclovia com muitas rachaduras e depressões originadas de quando ainda não estava pronta, segundo vistorias do Tribunal de Contas do Município. Não é difícil entender a origem das falhas estruturais com discrepâncias entre o quadro de trabalhadores visto na obra e em seus registros pelo TCM e, assim, facilitando oscilações na cautela durante a escolha, uso e armazenagem dos insumos. Não foi esse o único projeto do conjunto, de modo que aparecem benfeitorias suas em outras porções da Cidade Maravilhosa, sendo exemplos o afundamento de asfalto durante trabalhos na Linha 4 do metrô em Ipanema e do BRT Transoeste e a incompetente reforma em um histórico conjunto residencial em São Cristóvão.

Não se deveu a escassez de recursos a postura inobservante com que foi montada a ciclovia. Disso muito bem estavam resguardados os contratos com a prefeitura carioca, em valores cuja sina era crescer. Nem que excedendo os 25% estabelecidos por lei municipal sobre licitações como teto para acréscimos e reduções de pagamentes. O prefeito Eduardo Paes enxergou a vaga que ocupava como motor do insucesso de tanto apontada por muitos braços estendidos em meio à massa, uma porta aberta para investigações no intuito de decodificar o plano exato de aproveitamento dos recursos acrescidos por ele, parentes e "chegados" (inclusive possíveis nomes que vierem a ser anunciados como candidato a sucessor).

As armadilhas contidas no espaço urbano carioca dispensam a vinda de integrantes do Estado Islâmico com vista a elevar sua periculosidade expandindo extremamente sua rota ocidental de ação, transferindo-as para um território que já é um campo minado por causa das improbidades públicas. A bomba descrita até o momento gentilmente não esperou a realização das Olimpíadas para detonar, mas constam outras capazes de melhor se posicionar no tempo com tal objetivo seguindo o exemplo do viaduto em construção que ruiu enquanto decorria a Copa em julho de 2014. E conforme apurou a BHTrans, entidade controladora do trânsito na capital mineira, e vivenciaram os ocupantes fixos ou temporários de imóveis na avenida Pedro I e redondezas, não há no fluxo humano e veicular local inconveniências para cujo controle teriam boa receptividade os incômodos e o duplo homicício – quando do acidente – oriundos da apertada rotina no canteiro de obras. O solo do Rio ficou fértil para análises pelos órgãos independentes da gerência municipal e todos os cariocas do papel que ao conjunto terão amanhã os reparos estruturais visando enfraquecer dificuldades para as quais atentou os administradores e empresas mais a proximidade de grandioso evento esportivo que os desafios cotidianos da multidão que lhes confia o atendimento a direitos básicos (saúde, ensino, casa própria, ir e vir).

O desabamento da ciclovia motivou internautas a compará-la ao viaduto Rei Alberto, também no Rio, sendo encaixável seu "descendente" belo-horizontino. O interesse na acareação vem da vantagem quanto a durabilidade do primeiro elevado, quase centenário e de pedra, sobre o mineiro, que nem chegou a ser inaugurado, e a passagem para ciclistas, por eles usada em escassos meses – ambos concebidos teoricamente na base de maior tecnologia nos materiais e procedimentos de montagem. As mudanças progressistas na construção de grandes empreendimentos de foco público marcharam em velocidade que bastante se elevou de 1920 (ano da inauguração do Rei Alberto) para cá. O aperfeiçoamento de medidas anticorrupção continua muito atrás, não se adaptando à complexidade ao setor incorporada pelas múltiplas relações com empresas pelos governos fundamentais à obtenção dos recursos materiais e serviços mais sofisticados, enriquecendo os meios pelos quais muitos gestores almejam guiar alguma soma dos bens a diferentes usos não especificáveis.

É certo limpar e pintar com alto zelo a casa quando para ela estiver prevista a vinda de visitantes que ficarão por extenso período. Dar as costas para itens importantes escondidos sob o teto e o chão e dentro das paredes, como as instalações elétricas e hidráulicas, pode deixar de tocaia inesquecíveis surpresas. Os acontecimentos exigem dos brasileiros em contato com pessoas do exterior empenho em lutar contra a ilusão destas de que nestas terras tudo é só samba – hoje um pouco desfalcado pelos artistas principalmente de agropop (nome conveniente ao que se chama em caráter errôneo de sertanejo) que exportamos – e futebol, se nem nas nações desenvolvidas a vida é um conte fadas, assim desmotivando nossos representantes a levantar vistosas obras de serventia duvidosa a todos nós sobretudo após os circos partirem. Votar com antecedente preparo também nos tira a culpa parcial pelas decepções.

(Referências:

http://m.extra.globo.com/noticias/rio/secretario-de-turismo-do-rio-assume-parentesco-com-fundador-da-concremat-mas-nega-que-tenha-relacao-com-empresa-19141601.html

http://m.jb.com.br/opiniao/noticias/2016/04/23/ciclovia-da-morte-os-bastidores-da-tragedia-e-seus-verdadeiros-responsaveis/

http://m.extra.globo.com/noticias/rio/internautas-comparam-ciclovia-que-caiu-viaduto-centenario-de-sao-conrado-19141421.html

http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-04-23/paes-admite-responsabilidade-da-prefeitura-na-queda-de-ciclovia.html

http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-04-22/alem-de-ciclovia-outras-obras-feitas-por-empresa-apresentaram-problemas.html

http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2016-04-23/ciclovia-da-niemeyer-ja-apresentava-rachaduras-antes-de-inauguracao.html

http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-04-23/bombeiros-encerram-buscas-por-vitimas-da-queda-de-ciclovia-no-rio.html

http://m.extra.globo.com/noticias/rio/internautas-comparam-ciclovia-que-caiu-viaduto-centenario-de-sao-conrado-19141421.html

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/01/26/interna_gerais,728305/levantamento-da-bhtrans-mostra-que-viaduto-que-desabou-na-pedro-i-era.shtml)

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