Sem a colaboração do homem, o clima pouco pode fazer por ele

O pré-inverno quase ao fim de março em Mato Grosso do Sul fez recuar o Aedes aegypti e, com efeito, a incidência da dengue, doença que imortalizou o nome popular do mosquito e não é mais a única transmissível por ele. Ao contrário do que gostaríamos a trégua se conformou com pedaços minoritários do estado, ao passo que o friozinho impulsionara outro mal, a gripe "suína" A H1N1.

A movimentação na rede de saúde de Campo Grande em janeiro sugere maior indiferença do mosquito ao direito de os cidadãos adentrarem o novo ano com sensações concretas e abstratas positivas, quando fora o mini animal perigoso que adentrou o novo ciclo com as patas direitas ao contribuir para deixar de molho muitas das 9662 pessoas que recorreram a hospitais e postos de saúde crendo estar com dengue. Em fevereiro o completo restauro das rotinas de trabalho e estudo, quando a única pausa se dá nos quatro ou cinco dias de Carnaval, protege um pouco os contingentes humanos, explicando isso o declínio das notificações para 8.941. No caminho decadente persistiu o índice até chegar em algo perto da metade – 4.270 casos suspeitos notificados – no último mês, regresso cuja dimensão advém, entre outros itens, da ré que as temperaturas deram no fim de período, influenciando todos que podiam a se manter concentrados em espaços sem totalmente livre circulação de ar e luz do sol {1}{2}. Aparentando uma dinâmica mais segregadora entre moradores humanos e mosquitos durante o retrocesso nos termômetros, foi maior em Dourados a retração nos casos para os quais crê-se ser a moléstia mesmo entre distintas partes do mês, grafada na forma dos 142 de 23 a 30 contra os 589 de 17 a 23 {3}.

A capital não foi a única área neste estado resfriada um pouco fora de época. A abrangência estadual do clima mais ameno, contudo, não surtiu efeito por sua vaga duração. No restante do estado a variação térmica passou despercebida pelos mosquitos, mantendo-se os registros de adoecimentos suspeitos em rota ascendente, e suas características ainda assim estariam impulsionando a gripe A.

Dispor o homem de habilidades excepcionais, tudo isso demonstra, não barra as atividades dos seres irracionais veiculadores de patologias em boa parte do mundo, onde o fracamente destro emprego dos peculiares atributos graças à presença de vãos interesses a sua frente torna esta categoria de vítima alvo tão atingível como qualquer organismo.

Mesmo o Aedes, que segue na propagação da dengue com não menos frequentes mortes – por enquanto 9 aqui em MS {4}{5} –, pondo para circular dois vírus incomuns à realidade brasileira e de muitas outras porções do globo, o chikungunya e o zika, por meio do qual ameaça o futuro das gerações a eclodirem, não teve muito bem pronunciado alívio o peso dos impasses obstrutores da reversão dos vícios no erguimento e guarda de bens estatais e particulares urbanos que em parte ressarcem aos mosquitos seu habitat invadido pelas selvas de concreto, onde as reprogramadas características tornam maléfico para os humanos a coabitação com eles. Tanto a possessões de governos de cujo domínio a justificativa é o uso social "gratuito" – no ato, excluídos os impostos cobrados aos usuários em produtos e serviços que utilizam – como a estruturas móveis ou imóveis privadas das quais só tem direito a usufruir quem paga diretamente aos vendedores e administradores se costuma aplicar providências tutoras visando mais o potencial lucrativo que o zelo em prol dos ganhos dos consumidores, referentes a qualidade e segurança, no proveito dos patrimônio, onde está a disciplina em evitar o acúmulo de água em suas superfícies ou artefatos inservíveis nelas inconscientemente descartados.

Tem com isso parentesco a incidência da gripe causada pelo subtipo H1N1 dos vírus Influenza tipo A. Em hospitais públicos {6} e clínicas particulares {7} na cidade de São Paulo o cenário é o mesmo: congestionamento (igual o trânsito da terra da garoa) na capacidade de suprir a demanda por atendimento a casos suspeitos e vacinação gerada pelo surto estranho a esta época que já ceifou quase 40 vidas no estado. O secretário estadual de Saúde David Uip elenca entre as hipóteses para o atípico crescimento desta gripe alterações no sorotipo do vírus {8}, capaz de terem se processado, dando conforto ao patógeno neste clima hostil, no recente novembro, em alinhamento aos primeiros acréscimos levantados pelo Centro de Vigilância Epidemiológica a cujo risco os gestores não fizeram caso, concretizando-se ele no que se vê agora.

Seguem as manifestações naturais apenas seus princípios, não importa se em benefício ou prejuízo aos seres vivos, especialmente o homem capaz de se adaptar a elas resguardando-se dos efeitos. A desaceleração na caça do mosquito da dengue por mantimentos em Campo Grande fora uma imprevisível sorte, mas dita vitória poderia manter-se, alicerçada na luta dos governantes e moradores, fidelizando-se ao exemplo dos primeiros.

(Reprodução no Dourados News)

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