Heterogêneas vitórias e derrotas nas Olimpíadas

Por duas semanas o Brasil e uns tantos países oficialmente se uniram no Rio de Janeiro intencionando, por meio de seus representantes em variados esportes, disputar recompensas pelo desempenho atlético expondo ao público de também múltiplas nacionalidades as lições sobre a proporcionalidade ideal entre nossas conquistas originadas em qualquer desafio que ultrapassamos e o quanto nos dedicamos a seu alcance de forma responsável, respeitando nossos semelhantes. Muitos dos que correram atrás das medalhas conseguiram-nas, não só entre no espectro desportivo. Tal larga abrangência de setores da sociedade relativiza as implicações positivas das vitórias aos campeões e aos perdedores nos âmbitos somados.

O primeiro ouro a reluzir nos jogos entre atletas da casa foi da judoca Rafaela Silva, natural da própria Cidade Maravilhosa. Negra e vinda de um exemplo de área cujo tipo exibe atributos responsáveis pela rotineira visão negativa sobre ele – a favela Cidade de Deus –, a atleta deu o correto retorno frustrante a seres que, após sua derrota nas Olimpíadas de 2012 em Londres, não trataram com prudência nem a cor da pele dela na hora de dar palpites acerca de sua carreira.

Um clima de festa desenvolveu-se no carente território habitacional. Quando da carreata com Rafaela sobre um caminhão dos bombeiros, mesmo os traficantes deixaram um pouco de lado as ferramentas por meio das quais conseguem a lealdade sem caminhos alternativos dos habitantes. Um dia a dia regado a estes e outros elementos complicadores à primeira vista veria o poder de influência deles em mais próximo risco com a opção de muitos jovens residentes por seguir o exemplo da conterrânea.

Mas na prática ameaçado fica o progresso desejável às carreiras destes sonhadores, envolto no desestímulo por grupos muito atuantes no fabrico de opiniões e costumes em demasia digeridos pelas massas. Desprezando-se a inferioridade em seus padrões humanitários alinhada a sua origem clandestina pelas mãos de pessoas que fixaram residência de modo e em locais impróprios após lhe ser negado espaço nos mecanismos econômicos e políticos de acesso a um lar digno, as favelas mais uma vez eram retratadas como se, por exemplo, armazenassem tesouros culturais de antepassados dos ocupantes, similarmente às povoações quilombolas e indígenas. Trechos de uma reportagem sobre a comemoração inspirados no "Rap da Felicidade", obra dos funkeiros Cidinho e Doca que se permite interpretar de maneira conformista, propagaram instrução contraditória à do exemplo que a judoca deixara. O vínculo dela com a ideia de que os moradores de favelas podem ser felizes apenas andando e vivendo tranquilamente onde nasceram e é seu "verdadeiro" lugar rivaliza com planos benéficos aos jovens esportistas vindos de tais áreas de seguir carreiras internacionais propagando espetaculares feitos nas modalidades que escolherem. Assim, pode ser que nos ditos bolsões urbanos brasileiros de flagelo socioeconômico soergam, mas na báse de árdua resistência aos impecilhos práticos e ideológicos, talentos esplêndidos como Usain Bolt, por exemplo. O corredor jamaicano negro – tipo físico bastante associado a cidadãos de baixa renda que vivem em regiões periféricas – passou a dono de mais um ouro e manteve-se no posto de homem mais veloz do mundo apesar da tentativa pelo rival canadense Andre de Grasse de captar vantagem em temporária desaceleração sua.

Ao contrário da Cidade de Deus, a Vila do João, talvez por falta de um representante olímpico, mostrou o que de "melhor" costuma proceder de comunidades a seu nível. E Roraima teve espaço para seu nome por alguns dias na imprensa carioca por de lá vir um dos membros da Força Nacional baleados ao por engano chegarem à favela, uma alegada tentativa de alargar a estreiteza que os bandidos com certeza impuseram às liberdades na gleba. Perante o resto da parcela hostil às leis da população estes meliantes contaram pontos adicionais na dedicação ao ofício, pelo jeito os que a fizeram menos vulnerável aos espetáculos ocorridos relativamente perto de sua "quebrada". Venha a eles a medalha de lealdade à carreira! Em contrapartida, boa parte do vazio no sentido positivo da festança para os parentes e amigos do policial roraimense já foi aberto por sua morte cerebral, sobrando às polícias e à Justiça a condenação a fornecer o destino certo aos perpetradores da barbárie, após as facilidades que eles tiveram com a fraca presença do Estado, chefe destes órgãos.

O enigma da felicidade possível na favela emaranha-se ainda mais com a contribuição de fator que atinge diretamente os sonhos atléticos, seu irregular suprimento. Manter nas comunidades projetos sociais que ultrapassam mil e aproximem o contingente infanto-juvenil do esporte, rivalizando em influência a este público com os traficantes, vem desafiando quem dirige as iniciativas e mesmo as famílias dos em torno de 50 mil frequentadores no acesso quase milagroso aos recursos vitais para as empreitadas, os mínimos golpes executáveis contra o vácuo na atenção estatal, privada e filantrópica. Em alternativa a viver nos antros de injustiças sociais, o vínculo a esportes iluminados por vagos feixes luminosos dos holofotes midiáticos, o que gera ínfimo público e consequentemente patrocínio, também coloca na corda bamba as expectativas de muitos atletas de alcançar e conseguir formidáveis desempenhos. Felipe Wu se antevê esquecido, apesar de ter após quase 100 anos despertado o potencial para gerar ganhadores do tiro esportivo ganhando a primeira medalha brasileira nos jogos, uma prata.

Vícios familiares às responsabilidades para com as infraestruturas do Brasil permaneceram aderentes a determinados setores de benfeitorias, em oposição à conhecida força no significado deste evento que as motivou. Faltou pessoal para ditar desde o início as sadias diretrizes para o gasto harmônico de tempo e recursos humano-materiais na construção da Vila Olímpica, asseio e prevenção de novos descartes de resíduos na Baía de Guanabara e capacitação para maior cautela com a piscina do Parque Maria Lenk, motivo para seu término no mesmo script prático que tantas obras destinadas a nós, anônimos pagadores de impostos. Na recente ocasião estimuladora da hospitalidade os organizadores dos jogos, por qualquer que seja o motivo de terem prosseguido em suas competências sem sequer olhar para metas e recursos de uso comum em preparativos para coisas assim, vazaram os desconfortos que o povo poderia mostrar às equipes atléticas especialmente de países de extremo terceiro mundo, que aguardavam abrigo e estrutura para demonstrarem do que são capazes após longo preparo melhores que de onde procederam por força do grande porte das competições, ou em opostos melhores níveis de desenvolvimento com os quais se habituam a vir ao alcance dos esportistas estes tratamentos dignos sob os quais desejam justamente manter-se.

Em demasia flexível na observância para com o consenso entre interesses individuais e as responsabilidades que lhe foram delegadas, parte do diverso caldeirão nacional de atletas que aterrissara no Rio tapeou pelas costas a parafernália de ideias, utensílios e seus manejadores que olhava quase sempre de frente para a meta de evitar, como único crime que estrangeiros pudessem exercer em nosso solo, o terrorismo e atentados comuns em nosso dia a dia (assaltos, por exemplo), por mão de obra nacional, contra turistas. Policiais e magistrados cariocas usaram de dificilmente vista boa-fé ao proceder com esportistas que pintaram e bordaram naquela fração do território quase ontinental. Deixara o posto de onde comanda a dinâmica penal do país, tendo direito a ser espectadora das Olimpíadas como o povo que por ela sofre, a cultura da impunidade estimulante, por exemplo, a competidores (três das ilhas Fiji, um da Namíbia e outro do Marrocos) receptivos com camareiras da Vila Olímpica de forma oposta ao esperado, ou os nadadores americanos dos quais não conseguiu se sustentar a tentativa de travestir algazarras em momento de bebedeira com calúnia ao trabalho "justo" dos assaltantes da cidade. Aqueles instantes muito bem poderiam marcar o adeus a estas incorreções legais com o início de reformas que afastariam de nossas vitrines direcionadas ao resto do mundo a nossa imagem de Casa da Mãe Joana.

Em adição à matriz legal, origem da indiferença, benéfica a muitos criminosos, da intensidade das penalizações em relação ao impacto de muitos delitos, ideologias irresponsáveis constantes em parte de nosso acervo cultural mainstream contemporâneo, após cruzarem as distâncias oceânicas, terão feito os atuais medalhistas da vergonha que ofenderam camareiras sexualmente enxergar no Brasil vantagens à prática de libertinagens de fato existentes e responsáveis por implicações negativas sobre o povo. Perigosamente, é possível estimar, alguns estrangeiros podem estar se rendendo à autoridade de produtos de entretenimento fortemente focados na banalização da sexualidade feminina, valendo citar muitas músicas e comerciais de cerveja, no controle de suas consciências, a ponto de começarem a ver toda mulher brasileira como "do mundo". Um detalhe fértil para sondagens é a consolidação destes valores em meio ao povo sem que a detenha nossos capazes princípios culturais autênticos, que não necessitam de incrustar-se nas tendências massificadas e pelo menos não muito explicitamente fornecem combustível ao potencial malicioso de algumas mentes. Nas cerimônias de abertura e fechamento das Olimpíadas, elementos de nossa cultura consagrados por esses atributos foram apresentados na sequência de prévios ensaios a líderes políticos e cidadãos comuns, profissionais de mídia e espectadores, do Brasil e do exterior, uma tão repetida reação a momentos de enorme foco sobre nós. Através dela, portanto, mostra-se uma fonte relativamente mais decorosa para inspirações artísticas, tendo os segmentos lúcidos da mídia, Poder Público e da sociedade em si a incumbência de estimular seu emprego segundo isso caiba nos interesses de cada indivíduo em prol de mais ordeiras expressões de ideias.

Membros comuns da sociedade e sua parte com necessário e real poder sobre o conjunto, o Estado, levaram durante as partidas placares negativos, como a todo momento, face a imprudências sobre as quais as perdas ensinam sempre. Mas se as tão festejadas medalhas ganhas no âmbito esportivo vieram na base da recusa dos atletas em render-se aos desafios típicos de suas modalidades ou inerentes a características desfavoráveis do status social de alguns, o que poderá manter o Poder Público e pessoas físicas e jurídicas que obedecem-no inertes sob os efeitos de erros deles que os impedem de evoluir a padrões olímpicos na atenção para com as necessidades dos semelhantes a mercê de sua influência?

(Reprodução:
http://www.webartigos.com/artigos/heterogeneas-vitorias-e-derrotas-nas-olimpiadas/145205/

Referências:
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http://m.extra.globo.com/esporte/rio-2016/rafaela-silva-desabafa-apos-conquistar-medalha-de-ouro-essa-para-todos-que-me-criticaram-19879903.html

http://m.extra.globo.com/esporte/rio-2016/rio-2016-judoca-rafaela-silva-vence-mongol-conquista-primeiro-ouro-do-brasil-19879732.html

http://odia.ig.com.br/esporte/olimpiada/2016-08-21/fim-do-jejum-de-12-anos-wallace-comanda-em-quadra-e-brasil-e-ouro-no-volei.html

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