Gente indigna de farta aposentadoria por doping na disputa com os desejantes honrados

Em torno das empresas estatais brasileiras orbita um vasto perigo relativo aos interesses das mãos que as manipulam. A ameaça vai além do patrimônio e da mão de obra ativa dos empreendimentos, não estando a Petrobras sozinha. O complemento da aposentadoria de trabalhadores da petroleira e outras instituições se sujeita a um futuro preocupante depois de longo período em que boa soma de seu conteúdo serviu a aplicações em demasia desviantes, como evidencia a Operação Greenfield, mais uma a constar nas atividades das multiatarefadas Polícia e Justiça federais, junto à lendária Lava Jato, à qual é interligada por pontes. O mais recente rumo considerável é a corrida de empresas participantes nas fraudes às entidades previdenciárias em direção ao conserto dos rombos e da face negativa que nelas teria se moldado, prejudicial para a desenvoltura mercantil.

Coube à destituição da a partir de então ex-presidente Dilma Rousseff e afastamento do PT quanto à liderança do governo federal o fechamento do último agosto com chave relativamente valiosa, embora não seja de ouro. Sucedido em cinco dias o impeachment, fundos de pensão administrados em nome dos funcionários de quatro empresas públicas – Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correios) – adentravam uma nova semana a partir da qual não se viam mais sob o peso de um esquema injusto operado por administradores seus e empresas em conluio com eles.

Sem exclusividade de sede em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, estes suspeitos individuais e jurídicos viraram a bola da vez em processos criminológicos. Adicionara-se Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Bahia como pontos que exalavam a essência da mancomunação, que também até eles levou procuradores da República e agentes do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cumprindo ordens de prisão temporária, condução coercitiva e sequestro de bens. Objeções não caberiam à jornada que a tropa cumpriu (mesmo que a Justiça invalide os resultados), tudo o que ela fizera em nome dos bons princípios. Com um faro maior, paralelo ao dessa aliança repressora, a ser medido pelo esforço em cobrir diretamente (com seus próprios profissionais e usando de sua intimidade para com as conjunturas regionais, sem copiar tanto as informações veiculadas pela imprensa dominante nacional) as ações e suas consequências, os meios de comunicação de cada lugar dariam ao episódio e a acontecimentos de análoga natureza um brilho diferencial.

Um vivaz monitoramento jornalístico em todos os níveis espaciais envolvidos traça sua necessidade no imperdível enfoque na questão para o qual se abre terreno às esferas políticas, econômicas e cidadãs cujo envolvimento nas análises do tema for requerível. Todo o acessível cuidado vale absolutamente na administração da legitimidade (se existir) da abertura dos fundos de pensão a investimentos sem o mínimo vínculo com aportes de trabalhadores de empresas ligadas a eles à espera de uma aposentadoria na qual possam se apoiar no contorno a desafios inerentes à idade avançada.

Com a extração de divisas para investimentos cotados a imensos preços impensáveis no meio honesto do mercado, as receitas dos fundos, juntas, adquiriram um saldo negativo estimado em R$ 8 bilhões à época em que a operação Greenfield foi deflagrada. Inteira tal valor a soma do que foi confiscado nas contas bancárias de 103 pessoas individuais e jurídicas e os custos de bens físicos – imóveis, veículos terrestres e um aéreo – em que ditos e demais titulares conseguiram transmutar as aspirações por trás do envolvimento na negociata. Não vivia ela apenas do sustento por personagens até então imunes a qualquer suspeita vinda da opinião pública. De mais esse ajuntamento criminoso participava Léo Pinheiro, além de ter se metido com propósitos obscuros no manejo da Petrobras e em obras no Metrô de São Paulo e na Arena Fonte Nova, estádio de futebol de Salvador (BA). Nem o cerco no âmbito da Lava Jato fez o ex-presidente da construtora OAS recuar com seus ímpetos, impulso que só o encarceramento era capaz de alimentar e começou a fazê-lo ao ser determinado nos embalos da Greenfield.

Até o fim de setembro a Justiça foi o ponto em cuja direção correram procurando sanar danos originários de suas atividades alguns indivíduos e organizações empresariais implicados no esquema, dos quais acabou reconhecida a disposição para devolver à normalidade o conteúdo dos fundos de pensão, pondo os réus ao alcance dos aplicadores da lei bilionárias garantias financeiras possíveis de restituição aos entes lesados caso se ateste a culpa dos suspeitos. No mínimo antes da compaixão pelo pessoal que depende ou necessitará dos fundos previdenciários complementares defronte as pedras de tropeço capazes de impor sobre sua trajetória, vêm com certeza pretensões dos líderes econômicos e do Judiciário relativos à significação dos fatos sobre a moralidade mercantil das empresas, dotadas de muito poder sobre o mercado e até o setor público brasileiros. Respondem por dita postura o trivial interesse dos empresários (que às vezes pode contagiar magistrados, responsáveis, então, por sentenças unilaterais) no lucro que obtêm impondo afazeres a um grupo de operários e fornecedores e regendo-os. Versa sobre a sina deste contingente, com impactos sobre o que e quem ele sustenta (seus familiares, as economias regionais e a nacional), o outro empecilho a aproximação entre as penas às firmas inidôneas e os reflexos de suas práticas. A adesão do grupo J&F, que dirige a JBS, ao acordo com o MPF para o ressarcimento dos prejuízos e o firmamento de outro por seus comandantes, Joesley e Wesley Batista, na forma de um depósito judicial de R$ 1,5 bilhão para que retomassem as rédeas do conglomerado (após afastamento) distanciou do setor pecuário de Mato Grosso do Sul uma nuvem tempestuosa que deixara apreensivos os representantes da área, o vazio que poderia surgir como efeito colateral da plena responsabilização daquela sociedade mercadológica quase dona da cadeia produtiva desse estado pelos desacatos que apontou a Greenfield.

Esta, para o íntegro conhecimento dos princípios que muito mandavam no gerenciamento dos fundos de pensão, não se desenvolvera em solo virgem, posto que foi esta a segunda intervenção contra o proveito oportunista em um dos sistemas previdenciários. Outro grupo com este "disputava" a rentabilidade dos investimentos no Postalis, tendo entre os membros um banco estrangeiro junto ao qual o fundo negocia reembolso de valores visando poupar de aumentos nas contribuições os funcionários dos Correios e o empresário Fabrizio Dulcetti Neves, a esposa e familiares, indiciados em agosto pelo MPF por "lavar" os ganhos desonrosos a partir da empreitada. Nem estreante é esse estilo de ultraje aos trabalhadores. O esquema que ganhou ampla notoriedade nacional, mesma abrangência das quatro empresas públicas envolvidas, baseava propostas apresentadas por indivíduos como o vice-presidente da Câmara dos Deputados Waldir Maranhão (PP) e o doleiro Fayed Traboulsi, a diversas prefeituras brasileiras. Em julho emergiram indícios da passagem desses e outros elementos em circunstâncias assim pelo IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande) após terem se aproveitado profundamente dos fundos de pensão de inúmeros municípios goianos, o que atestara em 2013 a Operação Miqueias.

Marcando presença até nos meios em que muitos cidadãos trabalhadores e pagadores de impostos (também nem sempre despachados à finalidade oficial) depositam a esperança de um exitoso abrandamento definitivo da rotina, a corrupção majora a gama de grupos sociais e institucionais exigidos para derrotá-la. Num passo em falso o fenômeno pode se autodegenerar, voltando-se seus impactos contra o criador, para o que só basta se mexerem o povo e seus membros influentes virtuosos. Que se ponham os grupos compostos por ambos os tipos de pessoas em contínuas relações com fundos de pensão e empresas públicas a agir pelo implante nestes organismos de estratégias que averiguem as propostas de atividades e as liberem se não constarem suspeitas! E enquanto não cresce com mais ousadia o espaço no mercado para empresas emergentes que constituem alternativas à hegemonia de gigantes corporações inábeis para superar lugares-comuns no modo de fazer negócios, banir sem retorno a participação junto ao Estado ou estruturas ao mesmo vinculadas de todos os estabelecimentos com este perfil que desonraram o patrimônio público é um importante começo para o fim das más heranças sociais que nascem quando se dá proveito abusivo ao poder.

(Reprodução:
http://www.webartigos.com/artigos/gente-indigna-de-farta-aposentadoria-por-doping-na-disputa-com-os-desejantes-honrados/146737/

Referências:
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http://veja.abril.com.br/brasil/juiz-determina-que-40-alvos-da-greenfield-se-afastem-de-empresas/

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