Desastre no futebol e faltas na política

Cerca de 40 pessoas a bordo de um ônibus na manhã do dia 13 em Sertãozinho, no interior de São Paulo, perderam o tempo necessário para chegar pontualmente a seus compromissos com a parada do veículo perto de uma escola no bairro Alto do Ginásio por esgotamento de combustível. Sendo neste caso um ônibus, e não um avião, o veículo que decepcionou seus ocupantes no atendimento comum a seus diversos itnerários, dito conjunto de pessoas, mais o motorista e os administradores públicos locais e da empresa dona do coletivo, escaparam de se tornar outro centro das atenções na mídia, na esfera política e no setor comum da sociedade, que teriam de conciliar o interesse com o das curiosidades desencadeadas pelo trágico destino ao qual um avião levou grande parte do time Chapecoense e pessoas encarregadas de prestar-lhe relevante apoio. De consequências restritas a atraso condicionado ao deslocamento dos cidadãos rumo a seus deveres, o contratempo no transporte deles felizmente não se tornou novo fato, junto ao desastre aéreo, capaz de trazer à tona nacional e, quem sabe, internacionalmente, a incompetência de quem gere o sistema e nele ser visto pela banda podre de governos uma cortina de fumaça distraindo os olhos do povo e, assim, atiçando o interesse desses representantes seus utilizarem o momento para elaborar impopulares diretrizes com que deseja guiar o país.

A larga maioria dos ocupantes do avião (tripulantes bolivianos e passageiros do Brasil, que incluíam muitos jogadores e a delegação da Chapecoense, além de jornalistas), da qual ficaram de fora os seis sobreviventes, para casa voltou em condições de longe antagônicas ao que se desejava. Drasticamente impossibilitada a partida entre o time interiorano brasileiro e o Atlético Nacional da Colômbia, o estádio Atanasio Girardot, em Medellín, capital do departamento de Antioquia, no país vizinho, que seria palco da disputa, e a Arena Condá, na catarinense Chapecó, onde a população da cidade pretendia festejar o retorno triunfal da equipe da casa se saísse ela vitoriosa, converteram-se de locais de celebração do talento esportivo que cada equipe demonstraria o quanto pudesse para ambientes de lamento fúnebre. Dos colombianos o Brasil teve na noite daquele dia 30, há quase um dia da tragédia, o conforto valioso como reforço às agradáveis lembranças dos que partiram a ser consagrada na despedida a essas pessoas (dos quais o evento mais importante ocorreu no passado dia 3 no segundo reduto futebolístico). Era tanta a empatia supressora da tendência a rivalidades nos esportes que não teria cabido nos estádios, a ponto de se ter instalado telões em ruas de Medellín e cogitado tal providência em Chapecó.

Postas para descansar eternamente as vítimas fatais sob o solo de inúmeros pontos no Brasil e na Bolívia (com habitantes dos quais tinham principalmente graus de parentesco), há na busca por esclarecimentos acerca do que aconteceu uma parte remanescente do correr dos fatos merecedora da interferência altruísta de quem vive em qualquer porção do globo estremecida em algum grau pelos sentimentos advindos da infelicíssima ocorrência (ainda mais onde há internet acessível o suficiente para os cidadãos acompanharem a novels real por seus mais detalhados capítulos expostos no noticiário boliviano). Sob a opcional identidade de torcedores e/ou a universal de seres humanos iguais espiritualmente em toda parte da Terra, de unirmos havemos em rechaço às fraquezas do governo daquele país andino na gestão do espaço aéreo que o acidente com dolo eventual trouxe à tona. Numa atmosfera de afinidade dos mandatários com a corrupção, havendo de exemplos tratamentos mais generosos (mesmo possivelmente na rigidez cabível a questões de segurança) à LaMia por ter entre os donos o pai de um mandatário em um órgão aeronáutico, a funcionária no mesmo setor Celia Castedo Monasterio, quem antes do voo alertou sobre inadequações no avião (entre elas a quantia de combustível) para após a queda por pane seca ser obrigada a modificar os registros, e o piloto Miguel Alejandro Quiroga Murakami, suspeito de não ter reservado tempo para o abastecimento complementar do veículo em Cobija, sua cidade natal no departamento de Pando ou Bogotá, a capital colombiana – imputável até pouco antes de o aparelho ir contra o Cerro Gordo, perto da urbe antioquenha de La Unión –, em maior parte tiveram inutilizadas pelos inescrupulosos altos chefes seus desejos de salvar aquelas vidas impedindo que a aeronave acabasse por requerer pouso emergencial a controladores de tráfego colombianos junto a outras (uma destas em parecida situação, vazamento de combustível), às quais não pode esperar.

Temendo represálias ante o desfecho da trama, Celia deslocou-se rumo ao Brasil, entrando por Corumbá, anseando proteção. Mais uma confusão de abrangência nacional ou internacional a virar pauta na imprensa sul-matogrossense e a ter por testemunhas nossa população e autoridades devido à inserção do estado na trajetória dos fatos. E a específica ocorrência se fez mais dramática situada num dos menos confortáveis contextos, que nem ao esporte dizem respeito, mas a uma velha pedra em nossos sapatos, a moralidade política. O regime de queda desta se acelerou com a roleta-russa feita do Congresso em direção às prerrogativas dos bons brasileiros no dia 30, enquanto mal começara o luto. Nossos representantes na casa legislativa federal, tão humanos quanto nós, tinham a credencial para se unir ao time da empatia. Mas do que a ganância entre muitos deles não seria capaz?

Enquanto lamentava as grandes baixas na paixão nacional, a bola, nosso povo ficou à beira de também perder importante camada da blindagem de seus direitos gerais para ambições sem rédeas de elementos mais poderosos da sociedade com o desprezo pela Câmara dos Deputados da vontade popular no combate à corrupção aprovando só quatro entre dez medidas originais (às quais juntaram algumas outras, sendo a mais polêmica uma que dispõe sobre penas a magistrados por "abuso de autoridade" interpretável como qualquer investigação de condutas irregulares) contra a endemia encaminhadas pelo Ministério Público Federal com assinaturas (excluídas pelos parlamentares, dos quais nomes apareciam no lugar) de cerca de dois milhões de cidadãos. Alívio paliativo o STF, pelas mãos de um de seus ministros, Luiz Fux, conseguiu para o setor que norteia nacionalmente, a Justiça, barrando no dia 14 o trajeto dos planos rumo ao Senado. Já fora esta "peitada" pela maioria dos deputados que rejeitou propostas como a criminalização de enriquecimento ilícito, estímulo a denúncias de atos corruptos por pessoas comuns, bloqueio do acesso pelo infrator a recursos afanados, incumbência aos partidos políticos da responsabilidade por ilicitudes de seus membros e acordos entre defesa e acusação perante crimes menos graves. Para percebermos o quanto o prosseguimento da apreciação do pacote rasgado e quase vazio tornaria mais veloz a marcha a ré induzida agora em nossa democracia, recapitulemos o temperamento que regula as relações de Renan Calheiros (PMDB) com o Judiciário (vide sua reação ao encarceramento de policiais legislativos que tentavam estorvar a Lava Jato) e o apoio a esta postura vindo de colegas da assembleia que o dito cujo lidera ao manterem o mesmo presidindo-a desobedecendo liminar do ministro do STF Marco Aurélio Mello no dia 5.

Passados quatro dias da votação deturpadora das providências contra o inidôneo uso dos recursos públicos na Câmara, multidões inundaram ruas de importantes cidades brasileiras (capitais de estados e municipalidades cumpridoras de forte papel socioeconômico em determinadas partes do interior destes) respondendo ao ousadíssimo proveito do perdoável desvio do povo em relação ao dever de preservar-se alerta ao quão seus representantes zelam pelas condições ante as quais a massa os empossou. Focos de aberta condolência para com as vítimas do desastre com a Chapecoense resistiam mesclando-se aos protestos em duas cidades. Em Goiânia as mobilizações populares começaram com um minuto de silêncio, descambando para o descarte numa lixeira de fotos de deputados federais goianos que votaram o pacote anticorrupção deformado, por exemplo. Um evento de contestação pacífica dos vícios da máquina política no entorno da praça Halfeld, que abriga a Câmara Municipal de Juiz de Fora (MG), passou de um incômodo aos parentes e amigos que velavam no edifício o zagueiro Marcelo para uma circunstância incrementadora do time de adeus ao craque.

Em seu recurso ao travamento por Fux da tramitação das dez medidas por uma política mais reta, a Câmara usa como bases veros preceitos que sobre as costas do Estado como um todo não deixam se acumular a responsabilidade palo insucesso das propostas nas mãos dos deputados. A tese de para eles existir o direito de expor por inteiro os fundamentos de seus votos aos projetos de lei, não se sujeitando a responder-lhes apenas "sim" ou "não", segue o princípio de que muitas iniciativas de autoria dos representantes populares diretamente eleitos têm nos que neles votaram contribuintes para a origem delas. Medidas contra abuso de autoridade no judiciário e outras do mesmo quilate que podem ter lados bem intencionados dignos de aperfeiçoamento que os façam prevalecer sobre os malefícios, constituem temas oportunos ao debate democrático. Visto que as escolhas de muitos eleitores levam a predominar na Câmara federal o poder de cabeças que pensam um emprego dessas medidas contra as barreiras à corrupção, é previsível restarem só caminhos de regresso para guiar o povo inteiro adiante. Postergar a catástrofe deve ser a meta da Justiça, à qual caberá endereçar àquela casa legislativa ordens de reparo pela instituição de itens das dez propostas a cujo respeito o recurso desse plenário não convencer o STF. Falta para referidos tópicos relativos ao rasgo e quase esvaziamento do pacote o informe pelo presidente do corpo parlamentar Rodrigo Maia (DEM) de providências a serem adotadas para ajustar as sugestões ao interesse comum, da forma como o dito cujo procedeu no tocante à retirada dos nomes de cidadãos que assinaram os projetos, declarando que, carecendo a estrutura que preside de recursos para verificar a autenticidade das rubricas, acionará os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) de todo o país.

O repúdio da população ao bloqueio de caminhos para o bem-estar a que lhe condiciona a libertinagem de gente que traiu o compromisso de operar o Estado em prol do bem coletivo se lá posto pela sociedade tem uma força, a ponto de levar a um simbólico "descarte" das lideranças, espetacular que para além destas terras cabralinas lhe confere adequado formato para uso indispensável nas ocasiões em que se abrem ao público o espaço para a escolha de quem o deve governar, de cujos resultados personificados requerem, estando os sujeitos no poder, vigilância. Uma espreita conduzida de modo a produzir o máximo que se puder de frutos mantém em níveis controlados a astúcia de muitos estadistas para "gols de placa" pelas costas dos contingentes populares enquanto os olhos destes voltarem-se às vezes para aspectos interessantes de suas preferências esportivas e identidade cultural.

(Reprodução:
http://www.douradosnews.com.br/dourados/desastre-no-futebol-e-faltas-na-politica#.WGEudos3qBk.facebook

Referências:
https://www.noticiasaominuto.com.br/politica/320156/maia-quer-verificar-assinaturas-de-pacote-anticorrupcao

http://g1.globo.com/politica/noticia/camara-envia-a-fux-recurso-contra-decisao-sobre-pacote-anticorrupcao.ghtml

http://g1.globo.com/politica/noticia/renan-senado-decide-nao-cumprir-liminar-e-aguardar-decisao-do-plenario-do-stf.ghtml

http://www.conjur.com.br/2016-dez-14/fux-manda-camara-recomecar-zero-votacao-pacote-anticorrupcao

http://veja.abril.com.br/brasil/fux-anula-votacao-de-pacote-anticorrupcao-na-camara/

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http://www.elespectador.com/deportes/futbolinternacional/todos-chapecoense-sentido-tributo-victimas-de-tragedia-articulo-668318

http://www.semana.com/deportes/articulo/graciascolombia-brasil-tras-apoteosico-homenaje-en-medellin-a-victimas-del-chapecoense/507551

http://www.elcolombiano.com/antioquia/mapa-del-lugar-del-accidente-del-avion-de-chapecoense-KC5466693

http://www.elcolombiano.com/antioquia/mas-de-20-periodistas-fallecieron-en-el-avion-del-chapecoense-DI5468335

http://www.elcolombiano.com/antioquia/accidentes-aereos-en-antioquia-GI5468459

http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/10/renan-diz-ter-orgulho-de-presidir-congresso-com-carmen-lucia-no-stf.html)

Comentários

  1. A nota e ou materia esta extensa e ninguem tem tempo de ler material tao longo assim; outra coisa a primeira parte da noticia daria para fazer o lead, sub-lead e ainda algum enchimento da noticia, porem esta em certos casos dificil de se entender o conteudo. Um forte abraco.

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