Brasil sob risco de asfixia

Uma nova onda de infecções por coronavírus e resultantes mortes, que respectivamente empurra o acumulado desses números para além dos 20,1 milhões e 563 mil, disseminou pelos centros médicos públicos e privados do Brasil a ameaça de blecaute no suprimento de oxigênio, a exemplo do que o Amazonas vivenciou em janeiro, e de mais insumos. A recente conjuntura aperfeiçoou-se desnecessariamente em relação ao cenário do ano passado para induzir a rendição do governo federal, gestores regionais e boa parte do povo aos protocolos determinantes para uma exitosa cobertura vacinal e, até que estejamos atravessando em um volume expressivo essa finalmente aberta rota libertadora, frutuosos sacrifícios por algum represamento no trânsito interpessoal do vírus segundo o grau de preparo dos hospitais e cemitérioa para acréscimos na procura poe seus respectivos serviços

A presente geração de médicos e enfermeiros de Manaus teve sua boa vontade profissionalmente intrínseca explorada além de qualquer imaginável confim com a astronômica batalha por sobrevivência ocasionada entre enfermos de COVID-19 nos hospitais pelo pobre estoque de oxigênio com que se deparara a então crescente cifra deles.

O teor da sensibilização gerada na opinião pública pelos registros midiáticos do marco zero daquela escalada nacional nos contágios e no deles resultante peso sobre a acessibilidade de recursos humanos e materiais das instalações hospitalares avivou entre alguns setores da sociedade civil o espírito da solidariedade manifesto em seu fornecimento às autoridades de insumos para o socorro aos privados de respirar em montantes extras com relativo efeito sobre sua inicial escassez. Cilindros freneticamente enchidos pela unidade local da White Martins e adquiridos por famosos para direta administraçào de oxigênio aos necessitados e pequenas usinas produtoras da versão medicinal desse valioso elemento da atmosfera doadas pela organização social União BR serviram à jornada de frenagem do colapso junto com os aparatos alocados às pressas por via aérea e pluvial pelos ministérios da Saúde e Defesa e gestores regionais, representando mentes com as capacidades e intenções garantidoras da conveniência de seu envolvimento na luta objetivando estancar um morticínio não desejado pelos regentes estaduais e a União, mas advindo como a adversa colheita relativa a descasos favorecidos por particulares aspirações de elementos humanos de ambos os campos administrativos.

Entre os representantes da White Martins certamente não havia pretensões expansionistas patrimoniais como as de que a Justiça Federal suspeita em contratos do governo amazonense para a compra de respiradores e reforço da quantidade de leitos acessíveis ao público. Quiçá por isso o governador Wilson Lima (PSC) e seus subordinados no setor da saúde não se deixaram guiar por seu prévio conhecimento da iminência de uma degeneração do cenário epidemiológico como visto em janeiro rumo ao firmamento de adicionais pactos remunerados com a fabricante de gases hospitalares e industriais a fim de dar-lhe condições de adotar temporariamente uma cadência adequada à geração de estoques de oxigênio sob medida para a prenunciada desolação

Tendo dirigido equivalente advertência ao Ministério da Saúde antes de toda a rede hospitalar de Manaus chegar à falência respiratória, a White Martins foi contemplada com uma similar resposta cuja destreza foi fiel aos princípios cientificamente bastardos aos quais Bolsonaro buscava a subserviência do órgão enquanto o general Eduardo Pazuello o comandava em vez de um médico. Seria, defronte a lente ética pela qual o presidente e seus fiéis enxergam seus atos, um evento superestimado por lideranças locais visando embotar seu empenho com intuito de conduzir o Brasil ao tão almejado progresso. Aliás, nenhum desdobramento nacional desse tenso momento da história humana pode ter escapado da guerra sem escrúpulos do presidente e seus entusiastas aos gestores regionais que, entre a adoção de protocolos para a vacinação e o controle das interações sociais até que esse procedimento avance a níveis majoritários, não vetados pelo chefe do Executivo na sanção de projeto de lei sobre a pandemia no começo do ano passado, e as fórmulas mágicas com mais riscos do que benefícios atestados em cuja promoção persistem tais grupos dotados de domínio direto ou indireto sobre os poderes centrais, optaram pela primeira categoria de estratégias, provida de uma fiabilidade construída no decorrer de anos mediante aperfeiçoamento metodológico e tecnológico. Dado o volume desse conjunto de feitos, de forma alguma o ente mitológico por enquanto reinante sobre o país e seus escudeiros conseguirão travar o curso da CPI conduzida pelo Senado a partir da digestão desse combustível informacional de que podem derivar procedimentos judiciais visando privá-los de sua influência sobre o Estado e conduzí-)os para sanções penais.

Do sufoco experienciado no Amazonas até agora não foram vistos gêmeos idênticos em outras frações do país, talvez por consequência da maior acessibilidade a estas de estruturas para o transporte terrestre dos cilindros de oxigênio aos centros médicos que os demandarem e à pouca complexidade do processamento da substância. Mas a ameaça de fim dos estoques de fármacos que viabilizam a intubação de pacientes e o ainda vivo risco de novos picos de ocupação dos leitos de UTI não impugnam a indesejada candidatura de qualquer cidade brasileira a novo cenário de episódios de desmedido ingresso de convalescentes a hospitais com desfecho majoritariamente fatal por falta de recursos exigidos pela complexidade de seus quadros clínicos.

A corrida de municípios e estados para longe da susceptibilidade a assustadores picos de insolvência no atendimento aos acometidos pela COVID-19 através da mais adequada via para virar essa horrenda página da história nacional, a vacinação, também está ao alcance do empuxo de aspirações perceptíveis no Executivo federal e pretensões aparentadas por governos estaduais e prefeituras, ambas debilmente atadas aos anseios gerais. O sentido progressivo em que se dá a busca da indução do recuo na disponibilidade entre nós de organismos para cada qual o novo coronavírus pode determinar a intensidade do ataque é mérito dos imunizantes que chegam aos braços de brasileiros escapando às armadilhas dessa viagem.

Todos os carregamentos de vacinas têm conseguido driblar o primeiro trecho constituído pelo contraste entre diferentes regiões do Brasil no que tange à qualidade de suas infraestruturas de transporte. A seguir sujeitas a custódia e aplicação sob direto comando pelos governos estaduais e prefeituras, nem todos os preparados protetivos contaram com o adequado nível de esmero para com as condições de estocagem que lhes convêm ou foram administradas em quantidade mais que suficiente e no momento em que a idade, profissão e perfil clínico de cada receptor podiam ser abrangidos pela maratona vacinal. A descoberta no ano passado de esquemas visando a satisfação de interesses políticos e econômicos indivisíveis entre toda a sociedade em contratos de administrações regionais com empresas privadas para a compra de insumos demandados na assistência às vítimas do vírus pôs em evidência o possível nefasto fim dado a parte desses imunizantes, merecedor de análoga averiguação policial e judiciária.

Para adicional alvo de cobiçadas providências assim o governo federal inadvertidamente se expõe devido a pistas chafurdadas pela referida CPI de provável tentativa pelo Ministério da Saúde de influência sobre os preparativos da descrita jornada logística mediante a incorporação de uma vacina indiana não liberada por aqui em razão de suspeitas na abordagem de normas assépticas por seu desenvolvedor e acréscimo de obstáculos à compra de fármacos profiláticos permitidos, através da imposição de um exorbitante preço aquisitivo aos entes privados que apresentasssem ofertas. Os discursos hostis à vacinação, assim como à quarentena, com que Bolsonaro tem atiçado sua manada de fiéis contra esses protocolos sem dar bola para os riscos ofertados a essa massa e partilhados com inocentes no tocante à sobrecarga intrínseca aos picos de contágios e a ineficiências impostas ao atendimento por condutas mal-intencionadas de prefeitos e governadores, parecem ter na gula financeira surgida entre encarregados de administrar federalmente a saúde à medida que vacinas eram permitidas no Brasil e no exterior uma potencial fonte de refração para sua aplicabilidade prática. Uma hipotética identificação em Bolsonaro de comprometimento com o esquema revelará uma macabra dialética em suas vontades capaz de ampliar o rigor de responsabilização penal a que o atual presidente, quando receber o prefixo "ex", terá direito segundo a opinião pública realista em um muito provável consenso com a Justiça.

No embalo dos choques entre os poderes federais e locais visando o reconhecimento popular de quem tem razão, estará cooperando com sua própria integridade orgânica e a de outrem o cidadão que se manter obediente enquanto necessário às normas de biossegurança acreditadas pela maioria dos cientistas e propagadas sem trégua pela mídia e até uma parte dos beligerantes, a depender do quão esses protocolos podem resguardar seus sinceros interesses. Cidadãos esses de que nas vindouras eleições a coletividade votante necessita para democraticamente direcionar-se contra todas essas lideranças estaduais e nacionais cujos atos nem sempre convergentes têm como soma de seus efeitos um sustento para nosso sufoco.

Brasil sob risco de asfixia

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